segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A MUSICOTERAPIA CUIDANDO DA SAÚDE VOCAL DO EDUCADOR: UMA AÇÃO PREVENTIVA DE PROMOÇÃO A SAÚDE.



MEDEIROS, Marcus Vinicius de Sousa¹;
PAULA, Karylla Amandla de Assis²;
NASCIMENTO, Sandra Rocha do³.
(Trabalho apresentado no CONPEEX/UFG, 2012)
 
Palavras-chave: Musicoterapia, Promoção da saúde, Saúde vocal do educador.

Justificativa
Ao longo do primeiro semestre de 2012, o projeto de extensão A mediação da Musicoterapia na Trans-Formação da comunidade escolar rumo a Ecoformação (EMAC-162) proporcionou intervenções breves de promoção a saúde dentro das escolas regulares, destinadas aos educadores.
Na área da Educação, diversos projetos e propostas são organizados objetivando mudanças na realidade escolar, proporcionando a ampliação da aprendizagem, principalmente nas séries iniciais e na formação continuada de educadores. No entanto, dentro dos espaços escolares, muitas propostas de resolutividade encontram-se sustentadas na lógica da racionalidade, buscando por explicativas que favoreçam ações gerais, planejadas para qualquer situação de conflito sem considerar as especificidades de cada circunstância. Faz-se necessário pensar diferente o espaço da escola. Silva (2011, p.105) afirma que
além de um local de ensino, a escola é também um local de agência da saúde, que busca um atendimento integral do homem, no seu desenvolvimento físico, intelectual, emocional e espiritual. Porém, nossas instituições públicas de educação encontram-se num estado cada vez mais difícil, tanto no que condiz à própria função que a educação deveria exercer em nossa sociedade, quanto à falta de incentivos públicos que pudessem favorecer meios dignos para a execução da prática educacional. Com as dificuldades encontradas, cada vez maiores, para a viabilização do saber, não só a saúde dos educandos encontra-se em risco, como a própria saúde do educador nessas condições.

Compreendemos que se faz urgente encontrar soluções de cunho humanístico para essa problemática. Propomos a inserção da Musicoterapia no contexto escolar, como possibilidade de ações qualitativas de resolutividade de conflitos intra e inter-relacionais.
Bruscia (2000, p. 22) define o trabalho em Musicoterapia como um “processo sistemático de intervenção em que o terapeuta ajuda o cliente a promover a saúde utilizando experiências musicais e as relações que se desenvolvem através delas como forças dinâmicas de mudança”. Sendo assim, o processo musicoterapêutico deve ter como objetivo final algum tipo de mudança no individuo, alguma transformação (SILVA, 2011).
Considerando que as diversas dimensões do ser humano –biológica, cognitiva, social, cultural, psíquica e emocional- influenciam na compreensão sobre a saúde, propomos a Musicoterapia, trazendo aos educadores novas perspectivas do que é manter-se saudável.

Objetivos
O presente resumo trata do relato de experiência de algumas ações musicoterapêuticas efetivadas no projeto de extensão EMAC-162, direcionadas aos educadores com vistas a vivenciar formas criativas de expressão e de resolutividade das angústias relacionadas aos problemas encontrados no ambiente escolar e refletirem sobre a importância de pensar sobre sua saúde vocal.

Metodologia
Como uma das demandas observadas dentro do contexto escolar, através de levantamento pela Metodologia da Problematização e observações participantes, verificamos algumas dificuldades manifestadas pelos educadores ao se relacionarem entre si e sobre a atitude de cuidado com a saúde vocal, no decurso do cotidiano de suas atividades educativas.
O momento da formação continuada junto aos docentes é uma proposta oferecida pela Prof. Drª Sandra Rocha juntamente com os graduandos em Musicoterapia integrantes do projeto de extensão. Configura-se como um espaço-tempo em que os docentes vivenciam experiências musicais musicoterapêuticas numa perspectiva de intervenção breve e preventiva psicossocial (PELLIZZARI e RODRIGUEZ, 2005).
São proporcionados três encontros com os educadores, durante três semanas consecutivas no momento do recreio (15 minutos), dentro da escola, em que se utilizam técnicas de relaxamento corporal e de auto-percepção, com recursos de músicas gravadas ou tocadas em instrumento musical (teclado), associadas à disponibilização de folders para conscientização da saúde vocal e demais aspectos inter-relacionais.
            No primeiro contato efetiva-se o contrato terapêutico (D’ACRI, 2009) onde se estabelece, juntamente com os participantes, a forma como se dará os encontros além de esclarecer aspectos éticos. O momento das intervenções divide-se, basicamente, em quatro ações: fala sobre cuidados da saúde e exercícios; percepção corporal; experiência musical, relacionada ao canto, improvisação musical (BRUSCIA, 2000), técnicas de relaxamento e manuseio de instrumentos musicais coletivamente, em que podem ser associadas informações adicionais sobre auto-percepção e cuidado com a saúde; e por ultimo o momento de feedback dos participantes.

Resultados
Ao focarmos na saúde vocal, pôde-se perceber a necessidade e as duvidas que os educadores possuem com relação a manutenção e prevenção da voz, conseguindo assim evidenciar a importância que o tema adquire para os mesmos, despertando o interesse pela saúde vocal. Os folders proporcionados foram manuseados com muita atenção pelos educadores ampliando a conscientização sobre a saúde vocal.
Durante a aprendizagem das técnicas de relaxamento para percepção corporal, os educadores iniciaram uma possibilidade de observação do próprio corpo, como se encontravam no momento da intervenção e levando-os a uma maior percepção das tensões causadas pela rotina do dia a dia, refletidas no corpo. As ações musicoterapêuticas proporcionaram a aprendizagem de métodos de relaxamento corporal e dicas de respiração correta, embora pouco executadas pelos docentes.
Ao trabalhar a aproximação do grupo, verificamos que no inicio ocorria um distanciamento e pouca adesão dos docentes nas ações. No continuum das ações, verificamos um aprimoramento das relações no que se diz respeito ao contato, visto que se aproximaram e se tornaram mais permissivos no que diz respeito a expressão e exposição no meio grupal, proporcionando a integração entre si e a diluição de possíveis resistências grupais.
Na improvisação, foram detectadas algumas dificuldades no que diz respeito à exposição das próprias dificuldades junto ao grupo, através da presença de um silenciar. Os docentes tiveram muitas dificuldades em criar frases e sugerir palavras que expressassem o seu cotidiano e trazer conteúdos e/ou elementos que falassem dos seus desejos, insatisfações, resoluções para as problemáticas vivenciadas etc. Em suas falas eram presentes as seguintes expressões durante o canto: “nossa que música difícil!”, “hoje está difícil”, “na semana passada a música era mais fácil” (sic). Apesar da mediação das musicoterapeutas, o grupo ainda se mostrava em dificuldades para aderir com espontaneidade às ações musicoterapêuticas.
            Quanto a expressão dos conflitos internos, percebemos que ao longo dos encontros os educadores começaram a se abrir e expressar conteúdos pessoais. Aos poucos as docentes começaram a expressar suas dificuldades com relação as atividades pedagógicas a cumprir no decorrer do dia com as crianças e por se sentirem limitados na utilização de novos recursos.
            Nos feedbacks (MOSCOVICI, 2001), vários educadores relataram observar um alivio do estresse ao voltarem para as salas de aula, percebendo-se mais alegres. Referiram-se ao momento vivido como “um tempo para a gente relaxar” (sic).
Percebemos que as intervenções musicoterapêuticas oferecidas aos educadores, proporcionaram um momento para a ampliação do olhar para a saúde vocal, alem de trazer uma aproximação entre os membros do grupo, uma ampliação da auto-percepção frente ao cotidiano escolar e expressão de conflitos internos vividos junto aos alunos.
As ações musicoterapêuticas efetivadas se aproximam da perspectiva da Musicoterapia Preventiva Psicossocial (PELLIZZARI e RODRIGUEZ, 2005), que tem como objetivo “desenvolver uma observação das situações de conflito, seja com crianças ou adultos. Sua eficácia está em detectar estados de vulnerabilidade e fortalecer mecanismos de proteção” (PELLIZZARI apud. SILVA, 2011).
Conclusões
            A experiência confirmou a importância de se pensar na saúde do educador, uma vez que, em um nível auxiliar (BRUSCIA, 2000), a Musicoterapia proporciona o relaxamento corporal, a redução de estresse e a melhora do rendimento em atividades.
            Numa perspectiva preventiva psicossocial em Musicoterapia, não olhamos apenas para fatores físicos, mas sim para a totalidade da pessoa, em que corpo e mente e interação social são aspectos indivisíveis e que fazem parte da vida de qualquer ser humano, em qualquer ambiente.
            Proporcionar aos educadores um espaço-tempo qualificado de promoção de saúde, mediado pela Musicoterapia, é atuar na perspectiva da prevenção de estados de adoecimento, favorecendo o fortalecimento dos núcleos saudáveis das pessoas, adquirindo capacidades que reverberarão em suas ações cotidianas e em seus contextos de vivência.

 Referências Bibliográficas

    BRUSCIA, Kenneth. Definindo Musicoterapia. 2ª ed. Rio de Janeiro; Enelivros, 2000.

    D’ACRI, Gladys Costa de Moraes Rêgo Macedo. Reflexões sobre o Contrato terapêutico como instrumento de autorregulação do Terapeuta. In: Revista de Abordagem Gestalt. v.15, n.1, Goiânia, jun. 2009.

    MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento Interpessoal. 11ª ed., Rio de Janeiro, 2001.
    PELLIZZARI, Patricia C. e RODRIGUEZ, Ricardo J. Salud, Escucha y Creatividad. Musicoterapia Preventiva Psicosocial. Buenos Aires, Argentina: EUS, 2005.
    SILVA, Laryane Carvalho Lourenço da. A Musicoterapia num contexto educacional: Perspectivas de atuação. In: Revista Brasileira de Musicoterapia. Ano XIII, n. 11, 2011.


“Resumo revisado pela coordenadora do Projeto de extensão: A mediação da Musicoterapia na Trans-Formação da comunidade escolar rumo a Ecoformação - EMAC-162, coordenado pela Profª Drª Sandra Rocha do Nascimento”. Financiado pelo PROBEC 2012-PROEC/UFG.
1Discente do Curso de Musicoterapia, bolsista PROBEC-2012. mv.medeiros@live.com
2Discente do Curso de Musicoterapia, bolsista do MEC/SESU/PROEX-2011. karyllaamandla@yahoo.com.br
3Docente do curso de Musicoterapia. Musicoterapeuta, Coordenadora do projeto de extensão EMAC-162. srochakanda@gmail.com



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