sábado, 14 de novembro de 2015

A ATUAÇÃO DA MUSICOTERAPIA PREVENTIVA COMUNITÁRIA NO ESPAÇO EXTENSÃO UFG + SAÚDE: NOVOS DESAFIOS E DESCOBERTAS


A ATUAÇÃO DA MUSICOTERAPIA PREVENTIVA COMUNITÁRIA NO ESPAÇO EXTENSÃO UFG + SAÚDE: NOVOS DESAFIOS E DESCOBERTAS 

NASCIMENTO, Sandra Rocha do 1; PELLIZZARI, Patricia C. 2.  
1 Musicoterapeuta. Escola de Música e Artes Cênicas – email: srochakanda@gmail.com. Coordenadora do Programa de Extensão EMAC-06.
2 Musicoterapeuta Argentina. Membro externo – email: patripellizzari@yahoo.com.ar


Palavras-chave: Musicoterapia Preventiva Comunitária; Extensão Universitária;
Espaço Saúde.

Justificativa/Base teórica
Em nossa sociedade atual, seja em centros urbanos maiores, quanto do interior, os fatores de vulnerabilidade nas pessoas estão presentes cotidianamente, manifestos sob diversas formas, aspectos, níveis e sujeitos.

França, Silva e Barreto (2010, p. 520) afirmam que,
a sociedade vê emergir a falência nos valores éticos e morais, estimulada pela corrupção, impunidade e pelo aumento da criminalidade, num círculo que precisa ser quebrado./.../ há uma quase que ausência de exemplos a serem seguidos pelos jovens. A perda de valores éticos e morais é reforçada pela impunidade e a criminalidade, que aumentam dia a dia e desencadeiam um quadro de instabilidade e de desesperança. A família vai mal, e com ela os relacionamentos, o diálogo e o repasse de valores. Esta modificação na estrutura da rede familiar, em parte provocada pelo processo urbano e migratório, empurrou muitas famílias a residirem próximas ao local de trabalho e distante dos familiares de outras gerações. Consequentemente, a falta de oportunidades de convívio com os avós (avôs) provocou o afastamento afetivo e um sentimento de estranheza e de desconhecimento frente ao envelhecimento e aos idosos, que podem levar à formação de estereótipos e preconceitos. Não apenas o afastamento afetivo, mas um eminente conflito intergeracional deve ser levado em consideração ao serem propostos programas que atendam duas ou mais gerações.
Neste panorama contemporâneo, verificamos, assim, um distanciamento entre sujeitos de faixas etárias diferentes, empobrecendo as oportunidades de trocas de experiências de vida e invalidando saberes adquiridos por adultos e idosos.
Pellizzari (2011), afirma:
considero primordial ressaltar como el processo de la escucha, de la mano del processo del fortalecimento subjetivo, se sostienen de una red social que brinda identidad, del ser parte de algo mayor que uno mismo, família, grupos, comunidades. Para que el encuentro con las diferencias y la valoración de las mismas sean posibles es necessário un contexto social que haya sido, sea o passe a ser constitutivo, que ayude a la construcción de la singularidad
primeiro en lo especular del encuentro son semejantes que hacen sentir parte y no atentam contra sus integrantes. Cuanto más sólida sea esta base, más plasticidad y libertad de encuentros con diferencias enriquecedoras habrá. En este terreno la Musicoterapia tiene mucho para aportar a la comunidade, reconocerse como tal, fortalecer los lazos y el sentimento de pertinência, valorar lo próprio y desde ahí encontrarse, tolerar y más aún, valorar las diferencias (intra e intercomuntarias), enriquecerse con ellas, pudiéndolas integrar sin perder identidad (p.117-8).

Sustentado nesta perspectiva preventiva comunitária, o programa de extensão “Laboratório interdisciplinar de Educação em Saúde Comunitária (LABORINTER EDUCARSAÚDE.COM), sob cadastro EMAC-06 na PROEC/UFG, financiado pelo edital PROEXT 2015-2016/MEC/SESu, contendo em sua equipe acadêmicos dos cursos de Pedagogia, Musicoterapia, Direção de Arte, Artes Cênicas, Ciências Sociais, Odontologia, atua inter e transdisciplinarmente em espaços educacionais e comunitários, sob coordenação da Profa. Dra. Sandra Rocha do Nascimento (EMAC/UFG). Tem como propósito agir interinstitucional e comunitariamente e avaliar continuamente as ações do programa, proporcionando ações formativas teórico-práticas e vivenciais, avaliativas e de socialização sobre intervenções comunitárias interdisciplinares de educação em saúde desenvolvidas junto aos contextos intra e extra-escolar, bem como em espaços comunitários com vistas a sensibilização dos sujeitos. 

Objetivos
Neste trabalho, temos como objetivo abordar sobre alguns aspectos importantes presentes no desenvolvimento da ação extensionista no Espaço Extensão UFG+Saúde, no interior do norte goiano em 2015.

Metodologia
Através de convite realizado pela coordenadora geral de extensão na UFG, Profa. Dra. Claci Fátima Weirich Rosso, para participarmos da ação extensionista Espaço Extensão UFG+ Saúde, no município de Porangatu, na região norte do estado de Goiás/Brasil, acolhemos a idéia de participarmos desta ação junto aos acadêmicos das Ligas Acadêmicas do Curso de Medicina, acadêmicos do Curso de Enfermagem e de Nutrição, inserindo a Musicoterapia neste espaço-tempo diferenciado.
A ação ocorreu em um único dia, no segundo semestre de 2015, dentro de um galpão local onde são realizadas atividades para a comunidade. A programação do evento constou de: abertura com a presença de autoridades locais, do Reitor da UFG, da Coordenadora Geral da extensão, de docentes da UFG dos cursos de Enfermagem, Agronomia e Musicoterapia, e alunos dos cursos de Medicina, Enfermagem e Nutrição. Neste espaço foram estruturadas tendas ou locais específicos para a realização de cada atividade ou grupo, durante todo o dia, tendo como publico as pessoas da cidade adultos, crianças, adolescentes, jovens, idosos, do meio urbano e rural.
Na “tenda da Musicoterapia”, traçamos como objetivo sensibilizar as pessoas da comunidade para aspectos protetivos e saudáveis através de experiências musicoterapêuticas de promoção da saúde, bem como proporcionar a divulgação da Musicoterapia Preventiva Comunitária. A oficina e/ou atividade foi desenvolvida pela musicoterapeuta, autora deste artigo, denominada de “Como manter sua saúde?” e contendo uma configuração composta de: uma estética do espaço com banners de divulgação, painel com fotos diversas de cenas de risco e de aspectos de saúde, mesa com instrumentos sonoros de percussão (padeiro, caxixis, guizos, chocalhos, xilofone, papeis cortados coloridos, pincéis atômicos e fita adesiva), circundada por cadeiras, espaço para construção interativa de painel de mensagens. Agregou-se a estética do espaço faixas de tecido coloridas e frases indicativas de saúde, bem como flayers de divulgação. Os registros foram feitos através de fotos, mini vídeos e gravação em áudio.
A atividade foi estruturada sob orientação da Profa. Dra Patricia Pellizzari, com a seguinte sequência e/ou movimentação ou etapas: a musicoterapeuta ficava tocando alguns ritmos para chamar a atenção dos presentes; as pessoas que se aproximavam da tenda eram acolhidos e convidados para participarem, sendo direcionados ao painel com fotos para observarem as cenas e elegerem aquela que mais chamasse a sua atenção; depois eram convidados ao centro, junto a mesa com os instrumentos sonoros, para elegerem um para tocarem e/ou falarem porque a cena os impactou, sendo escutados pela musicoterapeuta; a seguir eram estimulados a pensarem em como manter a saúde (quando de cenas salutogênicas) ou como favorecer saúde (quando de cenas de vulnerabilidade), tendo como continente expressão a musicoterapeuta cantando uma melodia simples em estilo de repente, quaternário, para movimentá-los e expressarem suas opiniões, que ao efetivarem a musicoterapeuta escrevia em papéis cortados e estimulava-os a cantarem suas próprias respostas; a atividade finalizava com todos deixando os instrumentos sobre a mesa e direcionando-se ao espaço para construção interativa, pregando suas próprias mensagens; antes de se afastarem da tenda, era solicitado a eles darem um feedback sobre o que vivenciaram.

Resultados/discussão
Mediante as inúmeras tendas de orientação de saúde, bem como de realização de exames médicos, verificamos que as pessoas da comunidade fizeram adesão, quase que imediata, àquelas que forneciam exames e resultados clínicos, ficando as demais tendas esvaziadas ou com poucas pessoas.
Na tenda da Musicoterapia, como primeiro indicador de resultado, verificamos a presença do potencial da música em agregar pessoas e/ou despertar- lhes a atenção. Foi visível o quanto o estímulo sonoro tem um potencial importante de adesão, quer a distância (muito presente nos adultos a distância, com seus olhares curiosos para a tenda), quanto aderindo ativamente (como nas crianças que atraídas pelo som experimentavam os instrumentos). Com maior adesão das crianças, seus responsáveis se aproximavam e alguns aderiam na atividade. Com uma característica marcadamente espontânea e interativa, as crianças aumentavam paulatinamente sua adesão e expressão, favorecendo uma maior sonoridade antes e durante a permanência dos diversos adultos na tenda, seus familiares ou não, bem como colaborando na movimentação dos participantes pelas etapas da atividade.
Diante deste indicador de adesão, principalmente com a presença de crianças e adultos ao mesmo tempo, o espaço/tenda da Musicoterapia configurou-se como um espaço intergeracional.
França, Silva e Barreto (2010, p. 519) ressaltam “a importância dos programas intergeracionais para a quebra de preconceitos frente ao envelhecimento (ageismo), desenvolvendo atitudes que possam estimular a solidariedade e cidadania na sociedade contemporânea”.
Na atividade da Musicoterapia, estas atitudes - entre crianças, adolescentes e adultos- foram percebidas com facilidade, ampliando a interação e o aumento da expressão de idéias, com frases postas no painel colaborativo, tais como: “conversar com o aluno para saber o que ele sente” ou “levantar a pessoa e dar alegria para ela” (frente a uma cena de isolamento e bullying, sendo a mais eleita pelos participantes), “a gente ajudar a escola para continuar aprendendo” (frente a cena de escola com paredes pichadas e sem manutenção), e “manter sempre alegre” (na cena de pessoas sorrindo). As crianças criaram suas expressões através de desenhos e falas que foram escritas pela musicoterapeuta.
Para as autoras, “a solidariedade intergeracional pode reverter não só na quebra de preconceitos sociais frente ao envelhecimento, como na melhoria da qualidade de vida de jovens e idosos” (op.cit., p. 521). Para Antonucci (2007 apud França, Silva e Barreto, 2010, p. 521), “a maneira como o indivíduo constrói e interpreta as situações nas relações sociais produzem um efeito na sua saúde e bem-estar. As pessoas que vivenciam aspectos positivos nas relações de apoio intergeracional sentem-se mais positivas em relação a si próprias e ao seu mundo, suportando melhor a doença, o stress e outras dificuldades”.

Conclusões
Consideramos riquíssima a realização desta experiência na ação Espaço Extensão UFG+Saúde. Trouxe para a Musicoterapia outra forma de atuação comunitária, junto a profissionais de saúde e em espaços abertos e complexos, essencialmente imprevisíveis.
Configurou-se como uma oportunidade singular de pensar nossa atuação nestes espaços e nos percebermos em nossas potencialidades e possibiidades, emergindo novas formas de estruturação de intervenção comunitária.

Referências
FRANÇA, Lucia Helena de Freitas Pinho, SILVA, Alcina Maria Testa Braz da, BARRETO, Márcia Simão Linhares. Programas intergeracionais: quão relevantes eles podem ser para a sociedade brasileira? REV. BRAS. GERIATR. GERONTOL., RIO DE JANEIRO, 2010; 13(3):519-531
PELLIZZARI, P. Crear Salud- Aportes de la Musicoterapia preventiva-comunitária. Argentina: Patricia Pellizzari Editora. 2011.

“Resumo revisado pelo Coordenador da Ação de Extensão e Cultura , código EMAC-06: Profa Dra Sandra Rocha do Nascimento” (Musicoterapia/EMAC/UFG). 
 Fonte financiadora: PROEXT 2015/MEC/SESu