segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A MUSICOTERAPIA CUIDANDO DA SAÚDE VOCAL DO EDUCADOR: UMA AÇÃO PREVENTIVA DE PROMOÇÃO A SAÚDE.



MEDEIROS, Marcus Vinicius de Sousa¹;
PAULA, Karylla Amandla de Assis²;
NASCIMENTO, Sandra Rocha do³.
(Trabalho apresentado no CONPEEX/UFG, 2012)
 
Palavras-chave: Musicoterapia, Promoção da saúde, Saúde vocal do educador.

Justificativa
Ao longo do primeiro semestre de 2012, o projeto de extensão A mediação da Musicoterapia na Trans-Formação da comunidade escolar rumo a Ecoformação (EMAC-162) proporcionou intervenções breves de promoção a saúde dentro das escolas regulares, destinadas aos educadores.
Na área da Educação, diversos projetos e propostas são organizados objetivando mudanças na realidade escolar, proporcionando a ampliação da aprendizagem, principalmente nas séries iniciais e na formação continuada de educadores. No entanto, dentro dos espaços escolares, muitas propostas de resolutividade encontram-se sustentadas na lógica da racionalidade, buscando por explicativas que favoreçam ações gerais, planejadas para qualquer situação de conflito sem considerar as especificidades de cada circunstância. Faz-se necessário pensar diferente o espaço da escola. Silva (2011, p.105) afirma que
além de um local de ensino, a escola é também um local de agência da saúde, que busca um atendimento integral do homem, no seu desenvolvimento físico, intelectual, emocional e espiritual. Porém, nossas instituições públicas de educação encontram-se num estado cada vez mais difícil, tanto no que condiz à própria função que a educação deveria exercer em nossa sociedade, quanto à falta de incentivos públicos que pudessem favorecer meios dignos para a execução da prática educacional. Com as dificuldades encontradas, cada vez maiores, para a viabilização do saber, não só a saúde dos educandos encontra-se em risco, como a própria saúde do educador nessas condições.

Compreendemos que se faz urgente encontrar soluções de cunho humanístico para essa problemática. Propomos a inserção da Musicoterapia no contexto escolar, como possibilidade de ações qualitativas de resolutividade de conflitos intra e inter-relacionais.
Bruscia (2000, p. 22) define o trabalho em Musicoterapia como um “processo sistemático de intervenção em que o terapeuta ajuda o cliente a promover a saúde utilizando experiências musicais e as relações que se desenvolvem através delas como forças dinâmicas de mudança”. Sendo assim, o processo musicoterapêutico deve ter como objetivo final algum tipo de mudança no individuo, alguma transformação (SILVA, 2011).
Considerando que as diversas dimensões do ser humano –biológica, cognitiva, social, cultural, psíquica e emocional- influenciam na compreensão sobre a saúde, propomos a Musicoterapia, trazendo aos educadores novas perspectivas do que é manter-se saudável.

Objetivos
O presente resumo trata do relato de experiência de algumas ações musicoterapêuticas efetivadas no projeto de extensão EMAC-162, direcionadas aos educadores com vistas a vivenciar formas criativas de expressão e de resolutividade das angústias relacionadas aos problemas encontrados no ambiente escolar e refletirem sobre a importância de pensar sobre sua saúde vocal.

Metodologia
Como uma das demandas observadas dentro do contexto escolar, através de levantamento pela Metodologia da Problematização e observações participantes, verificamos algumas dificuldades manifestadas pelos educadores ao se relacionarem entre si e sobre a atitude de cuidado com a saúde vocal, no decurso do cotidiano de suas atividades educativas.
O momento da formação continuada junto aos docentes é uma proposta oferecida pela Prof. Drª Sandra Rocha juntamente com os graduandos em Musicoterapia integrantes do projeto de extensão. Configura-se como um espaço-tempo em que os docentes vivenciam experiências musicais musicoterapêuticas numa perspectiva de intervenção breve e preventiva psicossocial (PELLIZZARI e RODRIGUEZ, 2005).
São proporcionados três encontros com os educadores, durante três semanas consecutivas no momento do recreio (15 minutos), dentro da escola, em que se utilizam técnicas de relaxamento corporal e de auto-percepção, com recursos de músicas gravadas ou tocadas em instrumento musical (teclado), associadas à disponibilização de folders para conscientização da saúde vocal e demais aspectos inter-relacionais.
            No primeiro contato efetiva-se o contrato terapêutico (D’ACRI, 2009) onde se estabelece, juntamente com os participantes, a forma como se dará os encontros além de esclarecer aspectos éticos. O momento das intervenções divide-se, basicamente, em quatro ações: fala sobre cuidados da saúde e exercícios; percepção corporal; experiência musical, relacionada ao canto, improvisação musical (BRUSCIA, 2000), técnicas de relaxamento e manuseio de instrumentos musicais coletivamente, em que podem ser associadas informações adicionais sobre auto-percepção e cuidado com a saúde; e por ultimo o momento de feedback dos participantes.

Resultados
Ao focarmos na saúde vocal, pôde-se perceber a necessidade e as duvidas que os educadores possuem com relação a manutenção e prevenção da voz, conseguindo assim evidenciar a importância que o tema adquire para os mesmos, despertando o interesse pela saúde vocal. Os folders proporcionados foram manuseados com muita atenção pelos educadores ampliando a conscientização sobre a saúde vocal.
Durante a aprendizagem das técnicas de relaxamento para percepção corporal, os educadores iniciaram uma possibilidade de observação do próprio corpo, como se encontravam no momento da intervenção e levando-os a uma maior percepção das tensões causadas pela rotina do dia a dia, refletidas no corpo. As ações musicoterapêuticas proporcionaram a aprendizagem de métodos de relaxamento corporal e dicas de respiração correta, embora pouco executadas pelos docentes.
Ao trabalhar a aproximação do grupo, verificamos que no inicio ocorria um distanciamento e pouca adesão dos docentes nas ações. No continuum das ações, verificamos um aprimoramento das relações no que se diz respeito ao contato, visto que se aproximaram e se tornaram mais permissivos no que diz respeito a expressão e exposição no meio grupal, proporcionando a integração entre si e a diluição de possíveis resistências grupais.
Na improvisação, foram detectadas algumas dificuldades no que diz respeito à exposição das próprias dificuldades junto ao grupo, através da presença de um silenciar. Os docentes tiveram muitas dificuldades em criar frases e sugerir palavras que expressassem o seu cotidiano e trazer conteúdos e/ou elementos que falassem dos seus desejos, insatisfações, resoluções para as problemáticas vivenciadas etc. Em suas falas eram presentes as seguintes expressões durante o canto: “nossa que música difícil!”, “hoje está difícil”, “na semana passada a música era mais fácil” (sic). Apesar da mediação das musicoterapeutas, o grupo ainda se mostrava em dificuldades para aderir com espontaneidade às ações musicoterapêuticas.
            Quanto a expressão dos conflitos internos, percebemos que ao longo dos encontros os educadores começaram a se abrir e expressar conteúdos pessoais. Aos poucos as docentes começaram a expressar suas dificuldades com relação as atividades pedagógicas a cumprir no decorrer do dia com as crianças e por se sentirem limitados na utilização de novos recursos.
            Nos feedbacks (MOSCOVICI, 2001), vários educadores relataram observar um alivio do estresse ao voltarem para as salas de aula, percebendo-se mais alegres. Referiram-se ao momento vivido como “um tempo para a gente relaxar” (sic).
Percebemos que as intervenções musicoterapêuticas oferecidas aos educadores, proporcionaram um momento para a ampliação do olhar para a saúde vocal, alem de trazer uma aproximação entre os membros do grupo, uma ampliação da auto-percepção frente ao cotidiano escolar e expressão de conflitos internos vividos junto aos alunos.
As ações musicoterapêuticas efetivadas se aproximam da perspectiva da Musicoterapia Preventiva Psicossocial (PELLIZZARI e RODRIGUEZ, 2005), que tem como objetivo “desenvolver uma observação das situações de conflito, seja com crianças ou adultos. Sua eficácia está em detectar estados de vulnerabilidade e fortalecer mecanismos de proteção” (PELLIZZARI apud. SILVA, 2011).
Conclusões
            A experiência confirmou a importância de se pensar na saúde do educador, uma vez que, em um nível auxiliar (BRUSCIA, 2000), a Musicoterapia proporciona o relaxamento corporal, a redução de estresse e a melhora do rendimento em atividades.
            Numa perspectiva preventiva psicossocial em Musicoterapia, não olhamos apenas para fatores físicos, mas sim para a totalidade da pessoa, em que corpo e mente e interação social são aspectos indivisíveis e que fazem parte da vida de qualquer ser humano, em qualquer ambiente.
            Proporcionar aos educadores um espaço-tempo qualificado de promoção de saúde, mediado pela Musicoterapia, é atuar na perspectiva da prevenção de estados de adoecimento, favorecendo o fortalecimento dos núcleos saudáveis das pessoas, adquirindo capacidades que reverberarão em suas ações cotidianas e em seus contextos de vivência.

 Referências Bibliográficas

    BRUSCIA, Kenneth. Definindo Musicoterapia. 2ª ed. Rio de Janeiro; Enelivros, 2000.

    D’ACRI, Gladys Costa de Moraes Rêgo Macedo. Reflexões sobre o Contrato terapêutico como instrumento de autorregulação do Terapeuta. In: Revista de Abordagem Gestalt. v.15, n.1, Goiânia, jun. 2009.

    MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento Interpessoal. 11ª ed., Rio de Janeiro, 2001.
    PELLIZZARI, Patricia C. e RODRIGUEZ, Ricardo J. Salud, Escucha y Creatividad. Musicoterapia Preventiva Psicosocial. Buenos Aires, Argentina: EUS, 2005.
    SILVA, Laryane Carvalho Lourenço da. A Musicoterapia num contexto educacional: Perspectivas de atuação. In: Revista Brasileira de Musicoterapia. Ano XIII, n. 11, 2011.


“Resumo revisado pela coordenadora do Projeto de extensão: A mediação da Musicoterapia na Trans-Formação da comunidade escolar rumo a Ecoformação - EMAC-162, coordenado pela Profª Drª Sandra Rocha do Nascimento”. Financiado pelo PROBEC 2012-PROEC/UFG.
1Discente do Curso de Musicoterapia, bolsista PROBEC-2012. mv.medeiros@live.com
2Discente do Curso de Musicoterapia, bolsista do MEC/SESU/PROEX-2011. karyllaamandla@yahoo.com.br
3Docente do curso de Musicoterapia. Musicoterapeuta, Coordenadora do projeto de extensão EMAC-162. srochakanda@gmail.com



A MEDIAÇÃO DA MUSICOTERAPIA PARA O ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS: RESSIGNIFICANDO A FORMAÇÃO CONTINUADA DE EDUCADORES



VALENTIN, Fernanda
NASCIMENTO, Sandra Rocha do
 Escola de Música e Artes Cênicas - UFG
(Trabalho apresentado no Simpósio da Faculdade de Educação/UFG-2011)


 Os índices de violência nas escolas mantêm-se ascendentes, inviabilizando  os processos de ensino-aprendizagem e proporcionando, a curto prazo, a ampliação de situações de conflitos entre os sujeitos da comunidade escolar. Continuamente os educadores se queixam sobre a falta de preparo para lidar com as situações de conflito que convergem para atitudes agressivas, se percebendo fragilizados emocionalmente e com sérias dificuldades em realizar ações conjuntas.
Não preparados para o enfrentamento dessas situações, como conseqüência,  podem ocorrer diversos sintomas de adoecimento, tais como: presença acentuada de abstenseísmo, estresse, ansiedade, depressões, desajustamento no grupo, Síndrome do Pânico e a Síndrome de Bournout (MARTINS, 2007).
Dentro do contexto escolar, com a diversidade de atores que o compõe, cada qual em seu lócus de atuação, as situações de violência ora adquirem significações semelhantes, ora contrárias e mesmo contraditórias.
Segundo Abramovay (2003), não existe um consenso sobre o significado de violência, dificultando a definição e sendo delimitado pela unidade de ensino e seus atores. Para a autora, “a percepção da violência no meio escolar muda de acordo com o olhar pelo qual esse meio é abordado” (p.21), isto é, “o que é caracterizado como violência varia em função do estabelecimento escolar, do status de quem fala (professores, diretores, alunos, etc), da idade e , provavelmente, do sexo” (ibidi.).
Assim como as representações, as ações dos diversos atores frente as situações de violência escolar também se diferenciam. Abramovay (2003) afirma que para compreendermos a violência escolar se faz necessário considerar as variáveis endógenas e exógenas em sua conformação. Como questões exógenas, diversos aspectos externos são considerados: as questões de gênero, as relações raciais, as características familiares, a influência dos meios de comunicação, o espaço social das escolas etc. Referente aos aspectos internos, fatores como: a idade e a série ou nível de escolaridade dos estudantes, as regras e a disciplina dos projetos das escolas e o impacto do sistema de punições adotado pela mesma, o comportamento dos professores em relação aos alunos e a prática educacional.
A autora enfatiza, ainda, que “embora os fatores externos tenham impacto e influência sobre a violência escolar, é preciso tomar cuidado com o fator de que, dentro da própria escola, existem possibilidades de lidar com as diferentes modalidades de violência e de construir culturas alternativas pela paz, adotando estratégias e capital da própria escola” (op.cit., p.25).
Patto (2005) sustenta que além de considerarmos a violência nas escolas se faz necessário levar em conta a violência das escolas, apontando que existem três formas básicas em sua configuração que levam, principalmente, ao desrespeito da categoria profissional dos professores: os baixos salários, a má qualidade dos cursos de formação e a exclusão dos docentes dos processos decisórios. Devido a esses fatores e muitos outros aspectos, o ambiente escolar tornou-se um espaço de mútua culpabilização e desrespeito, onde os diversos atores imputam uns aos outros a culpa pela violência escolar. No entanto, a autora afirma que a “vítima” de toda essa violência são TODOS os sujeitos que trabalham e convivem nas escolas.
Dentro dos espaços escolares, muitas propostas de resolutividade encontram-se sustentadas na lógica ameaça-punição ou na racionalidade, buscando por explicativas que favoreçam ações gerais, planejadas para qualquer situação de conflito sem considerar as especificidades de cada cincunstância.
Apontanto para outra perspectiva, alguns autores (PATTO, 2005; ABRAMOVAY, 2003) avançam em outras proposições de resolutividade. Patto (2005) sustenta que, “a única atitude coerente a tomar é repensar, com honestidade de propósitos e com a participação de todos os integrantes da vida escolar (...) para que se possa identificar corretamente o inimigo e romper o circulo vicioso de acusações mútuas” (p.36). Para Abramovay (2003), “é justamente por sua complexidade e multiplicidade de facetas que a compreensão do fenômeno das violências nas escolas impõe o desafio de uma ótica transdisciplinar, multidimensional e pluricausal” (p.27).
A partir dessas considerações, compreendemos que se faz urgente encontrar soluções de cunho humanístico para essa problemática, considerando que outras dimensões do ser humano influenciam na compreensão sobre a violência. Dentre esses, os fatores subjetivos dos profissionais da educação pouco são enfocados pelos teóricos, centrando suas explicativas principalmente sobre os fatores socias.
Sustentamos que não considerar os fatores subjetivos reduz a compreensão sobre a violência nas escolas, fator que corrobora também para uma resolução reduzida em poucos aspectos. Desta forma, não excluimos a dimensão subjetiva dos docentes quando buscamos  compreender sobre os multifatores que levam às situações de violência nas escolas, bem a consideramos quando das possibilidades de resolução dos conflitos.
Diante dessa perspectiva, desenvolvemos um projeto piloto na rede educacional do Governo do Distrito Federal com o objetivo de qualificar docentes, a partir da mediação da musicoterapia,  para o enfrentamento da violência nas escolas e o manejo das diferentes situações correlacionadas. Em decorrência de alguns estudos desenvolvidos no FIB-DF 2007 e 2008 (1), efetivamos a construção do Projeto de Extensão intitulado “Ressignificando a Educação: espaços e tempos de Paz mediados pela Musicoterapia”(2), desenvolvido através da cooperação interinstitucional entre o Programa Mais Educação/MEC, o CEAM/UnB e a EMAC/UFG.
            A Musicoterapia, enquanto projeto diferenciado na formação continuada de professores, propõe  experiências musicais musicoterapêuticas (técnicas e procedimentos musicoterápicos) nas quais  a música aparece como elemento principal de sensibilização e criatividade, propiciando, na maioria das vezes, diversas transformações. Objetivamos, com este trabalho, melhorar o auto-conhecimento e a percepção sobre os demais atores participantes do processo ensino-aprendizagem (alunos, colegas, funcionários e gestores), possibilitando,  ao educador, a oportunidade de re-significar sua  prática docente.
            Numa perspectiva humanística, a proposta de inserção da Musicoterapia nas iniciativas de qualificação docente visa resgatar e desenvolver habilidades e competências intrapessoais e interpessoais no sentido de criar ambientes educativos  mais pacíficos. A proposta de inserção da Musicoterapia na formação continuada dos docentes utilizou o modelo de Educação de Laboratório (ARGYRYS apud MOSCOVICI,2008), o qual fundamenta-se na ideia de que os indivíduos, ao vivenciarem situações e/ou experiências, poderão conhecer melhor os próprios limites, preferências e características pessoais, e assim agir de forma diferenciada. O foco do aprendizado recaiu sobre a dimensão das atitudes manifestadas na relação educativa, englobando funções e experiências cognitivas e afetivas, em um ciclo de quatro etapas sequenciais e interdependentes: atividade, análise, conceituação e conexão com a realidade.
            Como aspecto diferenciador, a aprendizagem vivencial incluiu experiências musicais musicoterapêuticas, isto é, através da música, do som e do movimento os participantes vivenciaram o processo grupal, conduzindo à compreensão dos fenômenos subjetivos e à aceitação da diversidade de expressões emergentes. Nesse espaço musicoterápico são desenvolvidas atividades que valorizam a auto-expressão e a interação grupal, possibilitando o resgate de elementos motivacionais internos e externos, o que interfere sobremaneira nas relações intra e interpessoais.
            Diversos temas foram abordados durante os momentos de teorização, tais como: representações sociais; a escuta sensível, percepção sobre outras pessoas e profecia auto-realizadora; professor reflexivo; habilidades interpessoais; competição e cooperação; dinâmica e coordenação de grupos; estilos de comunicação; motivação e resistências humanas; autoritarismo e autoridade na relação educativa; mémórias e ludicidade; entre outros temas.
Obtiveram-se como resultados o resgate e desenvolvimento de habilidades e competências intra e interpessoais e a ressignificação das representações sobre os diversos fenômenos vivenciados. Junto aos docentes, observamos ganhos substanciais, principalmente no que tange à conscientização da importância de se resgatar o sensível no âmbito escolar e ao proporcionar reflexões sobre a prática pedagógica numa abordagem humanista, mediada pela Musicoterapia. Dentre os aspectos alcançados, emergiu a  mudança na escuta e no olhar docente sobre seus alunos, evidenciada diversas falas  tais como:  “aprendi que para ensinar é preciso escutar o outro”. Mudanças pessoais e de condutas frente as situações de conflito, através de posturas de  reflexão e ressignificação sobre a pratica pedagógica e um aumento da autopercepção frente as circunstâncias vivenciadas também foram amplamente verificadas.
Os dados obtidos apontaram para os seguintes resultados quali-quantitativos: 92,85% dos participantes evidenciaram um aumento da reflexão e autopercepção com falas que expressavam conteúdos como: “Fico às vezes, surpresa com as descobertas que faço de mim mesma, das dinâmicas e as emoções e sentimentos experimentados”; 28% dos participantes perceberam mudanças pessoais e de conduta, expressando discursos como “no meu dia-a-dia me pego pensando e tentando mudar o meu ‘eu’ e a partir daí entrar numa sintonia com o ‘outro’”. Referente à abrangência do mini curso para o trabalho pedagógico,  71,42% dos educadores afirmaram ouvir os alunos de maneira diferenciada, afirmando “muito que aqui aprendi e irei aprender estará nos gestos, atitudes e posturas diante de meus alunos”; 28,57% dos professores se perceberam estimulados a ensinar seus alunos, expressos como “levar aos alunos oportunidade de se perceberem e perceberem ao outro; 87,5% afirmaram perceberem-se adquirindo a capacidade de ouvir os alunos de maneira diferenciada, com expressões como “aprendi que para ensinar é preciso escutar o outro”.
Percebendo o potencial e a abrangência da Musicoterapia na formação continuada dos educadores,  acredita-se que esta iniciativa  possa viabilizar outras propostas a serem desenvolvidas e ampliadas dentro de uma política pública nacional voltada à humanização dos espaços escolares, fazendo emergir ambientes mais pacíficos.
O ser humano é uma espécie que se diferencia das demais, principalmente, por sua subjetividade. Ele se utiliza de diversas formas de linguagem para se relacionar no mundo -  gestos, sinais, palavras, sons, gritos, silêncios, cores, músicas etc. Nos casos de violência, muitos são os conteúdos que ficam no campo do não-dito. Abrir outros canais de comunicação através do não-verbal e da música, particularmente, pode propiciar a externalização de conteúdos guardados, e, conseqüentemente, promover mudanças (NASCIMENTO e CRAVEIRO DE SÁ, 2009).
Tanto o aluno quanto o professor, atores essenciais no processo de ensino-aprendizagem, podem se beneficiar da Musicoterapia por meio das sensibilizações, projeções e representações agenciadas pela música e seus elementos constitutivos. As experiências musicais interativas oportunizam a aceitação de expressões emergentes, da diversidade, possibilitando a ressignificação da prática pedagógica.
Na fala de um dos educadores, ao final do mini curso, encerra-se o alcance dessa nova perspectiva na formação continuada: “Este curso acrescentou mais leveza e criatividade a minha vida pessoal e profissional. Neste curso tive a oportunidade de parar, pensar e buscar me encontra saber quem sou plenamente. Pude perceber características a serem melhorada e outras a serem ressaltadas. Características profissionais que foram “apagadas”. Sinto-me mais preparada para lidar com o mundo novo da educação”. Em continuidade, outro educador ressalta: “Rever a minha prática, estender o curso aos professores da rede – mostrando a importância da prática mais dinâmica, do escutar, da criatividade, ter expectativas positivas, trabalhar a afetividade, contribui para que a escola seja lugar prazeroso, e a educação tenha QUALIDADE!”
Percebendo o potencial e a abrangência deste projeto em gerar conhecimento sobre a aplicabilidade da Musicoterapia na Educação, acredita-se que esta iniciativa  possa viabilizar outras propostas a serem desenvolvidas e ampliadas dentro de uma política pública nacional voltada à humanização dos espaços escolares.
 Referências
ABRAMOVAY, Miriam. Violência nas escolas: versão resumida. Miriam Abramovay et alii. Brasília: UNESCO Brasil, REDE PITÁGORAS, Instituto Ayrton Senna, UNADIS, Banco Mundial, USAID, Fundação Ford, CONSED, UNDIME, 2003.
MARTINS, L. M. A formação social da personalidade do professor: um enfoque vigotskiano. Campinas: SP: Autores Associados, 2007. – (Coleção formação de professores).
            MOSCOVICI, Fela.  Desenvolvimento Interpessoal. Treinamento em Grupo. 17ª Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.
NASCIMENTO, S. R.; CRAVEIRO DE SÁ, L. Musicoterapia: ressignificando o Ato Pedagógico. In: Anais do XIII Simpósio Brasileiro de Musicoterapia. Curitiba: AMTPR, 2009.
PATTO, Maria Helena de Souza. Exercícios de Indignação: escritos de Educação e Psicologia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.
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(1) Nos anos de 2007 e 2008 foi desenvolvido um projeto inserindo a Musicoterapia na capacitação continuada para docentes da rede pública do GDF (Governo do Distrito Federal), em que foram realizados mini-cursos no Festival Internacional de Inverno de Brasília – FIB, sob a coordenação geral da Profª Ms. Beatriz Salles/ UnB. Ao término dos mini cursos foram apresentados trabalhos pelas musicoterapeutas Leomara Craveiro de Sá e Sandra Rocha do Nascimento, em eventos científicos tais como: Seminário Nacional de Pesquisa em Música-EMAC/UFG, 2008; Simpósio da Faculdade de Educação – UFG, 2008; XIII Simpósio Brasileiro de Musicoterapia, UBAM, 2009).
(2) Formaram-se duas equipes para a efetivação do projeto: a Equipe Coordenadora, contando com os musicoterapeutas  Leomara Craveiro de Sá, Sandra Rocha do Nascimento, Fernanda Valentin e Alexandre Ariza Gomes Castro; e a Equipe Executora, contando com os musicoterapeutas facilitadores Mônica Selma Deiss Zimpel, Renato Valim de Paiva, Abiail Batista Rodrigues Alecrim Nascimento. O projeto teve início em Dezembro de 2009 com o treinamento da equipe executora do projeto, contando com a participação de 19 musicoterapeutas residentes nas cidades de Brasília e Goiânia. Em Abril de 2010 iniciou-se o mini curso vivencial em duas escolas do Distrito Federal, atingindo diferentes pólos. O Pólo 1, atendendo aos professores das escolas da região de Taguatinga, Brasilêndia, Ceilândia e Samambaia; e o Pólo 2, atendendo a região de Sobradinho, Paranoá, Planaltina e São Sebastião. Foram efetivados oito módulos, em que a cada módulo do curso,  ministrado quinzenalmente em dois períodos, contemplou a carga horária de oito horas.


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

professores de São Paulo sofrem de depressão Problemas de saúde são causados por estresse em sala de aula...aqui em Goiânia e no Estado de Goiás também encontramos numeros assustadores




02 de outubro de 2012


Quase 20% dos professores de São Paulo sofrem de depressão
Problemas de saúde são causados por estresse em sala de aula, diz pesquisa
Fonte: R7

Quase 20% dos professores da rede básica de ensino do Estado de São Paulo sofrem de depressão. O dado foi revelado pelo levantamento A Saúde do Professor na Rede Estadual de Ensino, feito pela Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) em parceria com o Dieese. Segundo o levantamento, divulgado com exclusividade para o R7, entre as pessoas que sofrem depressão, 57% acaba se afastando as aulas. A pesquisa mostra que, além da depressão, os transtornos de ansiedade, também interferem na probabilidade de afastamento do professor. O estudo com 2.500 professores da rede revelou que 23% deles sofrem de ansiedade ou síndrome do pânico.
Segundo a presidente do sindicato, Maria Izabel Noronha Azevedo, o dado pode impulsionar políticas mais efetivas para tratar e prevenir a depressão entre professores.
— A vida do professor não morre na sala de aula, por isso, temos uma luta grande para implementar a jornada do piso salarial, que deve garantir tempo para que o professor possa preparar suas aulas e receber por isso.

Afastamento por doenças: De acordo com a pesquisa, apesar dos altos índices de doenças psicológicas, os problemas físicos são os que mais causam o afastamento. Segundo a secretaria de gestão pública do Estado, 3.817 professores efetivos estão afastados. 
A hipertensão arterial atinge 30% dos professores. Em 2011, 37,6% dos professores que tiverem diabetes e 42% dos que tiveram asma, bronquite e outros problemas respiratórios foram afastados.
Para Maria Izabel, o governo precisa montar um grupo para trabalhar diretamente nas escolas e descobrir o motivo do adoecimento psicológico.
— O governo precisa definir o que quer da educação, de fato, e não procurar culpados. Quando eles fazem isso, quem fica doente somos nós. Nós somamos todas as profissões, não tem cabimento ficarmos largados, sem um olhar humano sobre nossos problemas.
 
http://www.todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/educacao-na-midia/24298/quase-20-dos-professores-de-sao-paulo-sofrem-de-depressao/, acesso em 02/10/2012.