MEDEIROS, Marcus Vinicius de Sousa¹;
PAULA, Karylla Amandla de Assis²;
NASCIMENTO, Sandra Rocha do³.
(Trabalho apresentado no CONPEEX/UFG, 2012)
Palavras-chave: Musicoterapia, Promoção da saúde, Saúde
vocal do educador.
Justificativa
Ao longo do primeiro
semestre de 2012, o projeto de extensão A mediação da Musicoterapia na
Trans-Formação da comunidade escolar rumo a Ecoformação (EMAC-162) proporcionou intervenções
breves de promoção a saúde dentro das escolas regulares, destinadas aos
educadores.
Na área da Educação,
diversos projetos e propostas são organizados objetivando mudanças na realidade
escolar, proporcionando a ampliação da aprendizagem, principalmente nas séries
iniciais e na formação continuada de educadores. No entanto, dentro dos espaços
escolares, muitas propostas de resolutividade encontram-se sustentadas na
lógica da racionalidade, buscando por explicativas que favoreçam ações gerais,
planejadas para qualquer situação de conflito sem considerar as especificidades
de cada circunstância. Faz-se necessário pensar diferente o espaço da escola.
Silva (2011, p.105) afirma que
além de um local de ensino, a escola é também um local de agência da
saúde, que busca um atendimento integral do homem, no seu desenvolvimento
físico, intelectual, emocional e espiritual. Porém, nossas instituições
públicas de educação encontram-se num estado cada vez mais difícil, tanto no
que condiz à própria função que a educação deveria exercer em nossa sociedade,
quanto à falta de incentivos públicos que pudessem favorecer meios dignos para
a execução da prática educacional. Com as dificuldades encontradas, cada vez
maiores, para a viabilização do saber, não só a saúde dos educandos encontra-se
em risco, como a própria saúde do educador nessas condições.
Compreendemos que se faz
urgente encontrar soluções de cunho humanístico para essa problemática. Propomos
a inserção da Musicoterapia no contexto escolar, como possibilidade de ações
qualitativas de resolutividade de conflitos intra e inter-relacionais.
Bruscia (2000, p. 22)
define o trabalho em Musicoterapia como um “processo sistemático de intervenção
em que o terapeuta ajuda o cliente a promover a saúde utilizando experiências
musicais e as relações que se desenvolvem através delas como forças dinâmicas
de mudança”. Sendo assim, o processo musicoterapêutico deve ter como objetivo
final algum tipo de mudança no individuo, alguma transformação (SILVA, 2011).
Considerando que as
diversas dimensões do ser humano –biológica, cognitiva, social, cultural,
psíquica e emocional- influenciam na compreensão sobre a saúde, propomos a Musicoterapia,
trazendo aos educadores novas perspectivas do que é manter-se saudável.
Objetivos
O presente resumo trata do
relato de experiência de algumas ações musicoterapêuticas efetivadas no projeto de extensão
EMAC-162, direcionadas aos educadores com vistas a vivenciar formas criativas
de expressão e de resolutividade das angústias relacionadas aos problemas
encontrados no ambiente escolar e refletirem sobre a importância de pensar
sobre sua saúde vocal.
Metodologia
Como uma das demandas
observadas dentro do contexto escolar, através de levantamento pela Metodologia
da Problematização e observações participantes, verificamos algumas
dificuldades manifestadas pelos educadores ao se relacionarem entre si e sobre
a atitude de cuidado com a saúde vocal, no decurso do cotidiano de suas atividades educativas.
O momento da formação continuada junto aos docentes é
uma proposta oferecida pela Prof. Drª Sandra Rocha juntamente com os graduandos
em Musicoterapia integrantes do projeto de extensão. Configura-se como um
espaço-tempo em que os docentes vivenciam experiências musicais
musicoterapêuticas numa perspectiva de intervenção breve e preventiva
psicossocial (PELLIZZARI
e RODRIGUEZ, 2005).
São proporcionados três
encontros com os educadores, durante três semanas consecutivas no momento do
recreio (15 minutos), dentro da escola, em que se utilizam técnicas de
relaxamento corporal e de auto-percepção, com recursos de músicas gravadas ou
tocadas em instrumento musical (teclado), associadas à disponibilização de
folders para conscientização da saúde vocal e demais aspectos inter-relacionais.
No
primeiro contato efetiva-se o contrato terapêutico (D’ACRI, 2009) onde se
estabelece, juntamente com os participantes, a forma como se dará os encontros
além de esclarecer aspectos éticos. O momento das intervenções divide-se,
basicamente, em quatro ações: fala sobre cuidados da saúde e exercícios;
percepção corporal; experiência musical, relacionada ao canto, improvisação
musical (BRUSCIA, 2000), técnicas de relaxamento e manuseio de instrumentos musicais coletivamente, em
que podem ser associadas informações adicionais sobre auto-percepção e cuidado
com a saúde; e por ultimo o momento de feedback dos participantes.
Resultados
Ao focarmos na saúde vocal,
pôde-se perceber a necessidade e as duvidas que os educadores possuem com
relação a manutenção e prevenção da voz, conseguindo assim evidenciar a importância
que o tema adquire para os mesmos, despertando o interesse pela saúde vocal. Os
folders proporcionados foram manuseados com muita atenção pelos educadores
ampliando a conscientização sobre a saúde vocal.
Durante a
aprendizagem das técnicas de relaxamento para percepção corporal, os educadores
iniciaram uma possibilidade de observação do próprio corpo, como se encontravam
no momento da intervenção e levando-os a uma maior percepção das tensões
causadas pela rotina do dia a dia, refletidas no corpo. As ações musicoterapêuticas
proporcionaram a aprendizagem de métodos de relaxamento corporal e dicas de respiração
correta, embora pouco executadas pelos docentes.
Ao
trabalhar a aproximação do grupo, verificamos que no inicio ocorria um
distanciamento e pouca adesão dos docentes nas ações. No continuum das ações, verificamos um aprimoramento das relações no
que se diz respeito ao contato, visto que se aproximaram e se tornaram mais
permissivos no que diz respeito a expressão e exposição no meio grupal, proporcionando a integração entre si e
a diluição de possíveis resistências grupais.
Na
improvisação, foram detectadas algumas dificuldades no que diz respeito à
exposição das próprias dificuldades junto ao grupo, através da presença de um
silenciar. Os docentes tiveram muitas dificuldades em criar frases e sugerir
palavras que expressassem o seu cotidiano e trazer conteúdos e/ou elementos que
falassem dos seus desejos, insatisfações, resoluções para as problemáticas
vivenciadas etc. Em suas falas eram presentes as seguintes expressões durante o
canto: “nossa que música difícil!”, “hoje está difícil”, “na semana passada a
música era mais fácil” (sic). Apesar da mediação das musicoterapeutas, o grupo
ainda se mostrava em dificuldades para aderir com espontaneidade às ações
musicoterapêuticas.
Quanto
a expressão dos conflitos internos, percebemos que ao longo dos encontros os
educadores começaram a se abrir e expressar conteúdos pessoais. Aos poucos as
docentes começaram a expressar suas dificuldades com relação as atividades pedagógicas a
cumprir no decorrer do dia com as crianças e por se sentirem limitados na
utilização de novos recursos.
Nos feedbacks (MOSCOVICI, 2001), vários educadores
relataram observar um alivio
do estresse ao voltarem para as salas de aula, percebendo-se mais alegres.
Referiram-se ao momento vivido como “um tempo para a gente relaxar” (sic).
Percebemos que as intervenções
musicoterapêuticas oferecidas aos educadores, proporcionaram um momento para a
ampliação do olhar para a saúde vocal, alem de trazer uma aproximação entre os
membros do grupo, uma ampliação da auto-percepção frente ao cotidiano escolar e
expressão de conflitos internos vividos junto aos alunos.
As ações musicoterapêuticas
efetivadas se aproximam da perspectiva da Musicoterapia Preventiva Psicossocial
(PELLIZZARI e RODRIGUEZ, 2005), que tem como objetivo “desenvolver uma observação das situações de
conflito, seja com crianças ou adultos. Sua eficácia está em detectar estados
de vulnerabilidade e fortalecer mecanismos de proteção” (PELLIZZARI apud. SILVA,
2011).
Conclusões
A
experiência confirmou a importância de se pensar na saúde do educador, uma vez
que, em um nível auxiliar (BRUSCIA, 2000), a Musicoterapia proporciona o
relaxamento corporal, a redução de estresse e a melhora do rendimento em
atividades.
Numa
perspectiva preventiva psicossocial em Musicoterapia, não olhamos apenas para
fatores físicos, mas sim para a totalidade da pessoa, em que corpo e mente e
interação social são aspectos indivisíveis e que fazem parte da vida de
qualquer ser humano, em qualquer ambiente.
Proporcionar
aos educadores um espaço-tempo qualificado de promoção de saúde, mediado pela
Musicoterapia, é atuar na perspectiva da prevenção de estados de adoecimento,
favorecendo o fortalecimento dos núcleos saudáveis das pessoas, adquirindo
capacidades que reverberarão em suas ações cotidianas e em seus contextos de
vivência.
Referências Bibliográficas
BRUSCIA, Kenneth. Definindo Musicoterapia. 2ª ed. Rio de Janeiro; Enelivros, 2000.
D’ACRI, Gladys Costa de Moraes Rêgo Macedo. Reflexões sobre o Contrato terapêutico como instrumento de autorregulação do Terapeuta. In: Revista de Abordagem Gestalt. v.15, n.1, Goiânia, jun. 2009.
MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento Interpessoal. 11ª ed., Rio de
Janeiro, 2001.
PELLIZZARI, Patricia C. e RODRIGUEZ, Ricardo J. Salud, Escucha y Creatividad. Musicoterapia
Preventiva Psicosocial. Buenos Aires, Argentina: EUS, 2005.
SILVA, Laryane Carvalho Lourenço da. A Musicoterapia num contexto educacional: Perspectivas de atuação. In: Revista
Brasileira de Musicoterapia. Ano XIII, n. 11, 2011.
“Resumo
revisado pela coordenadora do Projeto de extensão: A mediação da
Musicoterapia na Trans-Formação da comunidade escolar rumo a Ecoformação -
EMAC-162, coordenado pela Profª Drª Sandra Rocha do Nascimento”. Financiado
pelo PROBEC 2012-PROEC/UFG.
2Discente do Curso de Musicoterapia, bolsista do
MEC/SESU/PROEX-2011. karyllaamandla@yahoo.com.br
3Docente do curso de Musicoterapia. Musicoterapeuta,
Coordenadora do projeto de extensão EMAC-162. srochakanda@gmail.com