Em Goiânia, o Curso de Musicoterapia da EMAC/UFG avança em outras frentes de atuação na Educação: identificação dos fatores de risco e de proteção ao uso de drogas por escolares do ensino fundamental; promoção de ações de prevenção primária ao uso de drogas em grupos multifamiliares, com intervenções musicoterapêuticas dentro da escola; capacitação de acadêmicos sobre temas básicos em dependência de drogas.
No proximo dia 11 e 13/12/2012, será realizado o primeiro módulo de formação em dependência de drogas, oferecido aos acadêmicos do Curso de Musicoterapia, aos participantes do GEP de Musicoterapia na educação e aos preceptores de estágio em musicoterapia, através do projeto de extensão A MUSICOTERAPIA EM GRUPOS MULTIFAMILIARES NO CONTEXTO ESCOLAR: UM ESPAÇO-TEMPO DE PREVENÇÃO PRIMÁRIA AO USO DE CRACK E OUTRAS DROGAS, financiado pela SENAD.
Outros modulos serão oferecidos em 2013, com temáticas sobre sistema familiar, grupos multifamiliares entre outros.
A formação subsidiará a equipe executora do projeto de extensão, para em 2013 atuarem dentro de escolas da rede regular.
Espaço para socialização e debate interdisciplinar e interinstitucional da aplicabilidade da Musicoterapia na Educação, ampliando a 'escuta' sobre o processo ensino-aprendizagem e os fenômenos educacionais.
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
A MUSICOTERAPIA CUIDANDO DA SAÚDE VOCAL DO EDUCADOR: UMA AÇÃO PREVENTIVA DE PROMOÇÃO A SAÚDE.
MEDEIROS, Marcus Vinicius de Sousa¹;
PAULA, Karylla Amandla de Assis²;
NASCIMENTO, Sandra Rocha do³.
(Trabalho apresentado no CONPEEX/UFG, 2012)
Palavras-chave: Musicoterapia, Promoção da saúde, Saúde
vocal do educador.
Justificativa
Ao longo do primeiro
semestre de 2012, o projeto de extensão A mediação da Musicoterapia na
Trans-Formação da comunidade escolar rumo a Ecoformação (EMAC-162) proporcionou intervenções
breves de promoção a saúde dentro das escolas regulares, destinadas aos
educadores.
Na área da Educação,
diversos projetos e propostas são organizados objetivando mudanças na realidade
escolar, proporcionando a ampliação da aprendizagem, principalmente nas séries
iniciais e na formação continuada de educadores. No entanto, dentro dos espaços
escolares, muitas propostas de resolutividade encontram-se sustentadas na
lógica da racionalidade, buscando por explicativas que favoreçam ações gerais,
planejadas para qualquer situação de conflito sem considerar as especificidades
de cada circunstância. Faz-se necessário pensar diferente o espaço da escola.
Silva (2011, p.105) afirma que
além de um local de ensino, a escola é também um local de agência da
saúde, que busca um atendimento integral do homem, no seu desenvolvimento
físico, intelectual, emocional e espiritual. Porém, nossas instituições
públicas de educação encontram-se num estado cada vez mais difícil, tanto no
que condiz à própria função que a educação deveria exercer em nossa sociedade,
quanto à falta de incentivos públicos que pudessem favorecer meios dignos para
a execução da prática educacional. Com as dificuldades encontradas, cada vez
maiores, para a viabilização do saber, não só a saúde dos educandos encontra-se
em risco, como a própria saúde do educador nessas condições.
Compreendemos que se faz
urgente encontrar soluções de cunho humanístico para essa problemática. Propomos
a inserção da Musicoterapia no contexto escolar, como possibilidade de ações
qualitativas de resolutividade de conflitos intra e inter-relacionais.
Bruscia (2000, p. 22)
define o trabalho em Musicoterapia como um “processo sistemático de intervenção
em que o terapeuta ajuda o cliente a promover a saúde utilizando experiências
musicais e as relações que se desenvolvem através delas como forças dinâmicas
de mudança”. Sendo assim, o processo musicoterapêutico deve ter como objetivo
final algum tipo de mudança no individuo, alguma transformação (SILVA, 2011).
Considerando que as
diversas dimensões do ser humano –biológica, cognitiva, social, cultural,
psíquica e emocional- influenciam na compreensão sobre a saúde, propomos a Musicoterapia,
trazendo aos educadores novas perspectivas do que é manter-se saudável.
Objetivos
O presente resumo trata do
relato de experiência de algumas ações musicoterapêuticas efetivadas no projeto de extensão
EMAC-162, direcionadas aos educadores com vistas a vivenciar formas criativas
de expressão e de resolutividade das angústias relacionadas aos problemas
encontrados no ambiente escolar e refletirem sobre a importância de pensar
sobre sua saúde vocal.
Metodologia
Como uma das demandas
observadas dentro do contexto escolar, através de levantamento pela Metodologia
da Problematização e observações participantes, verificamos algumas
dificuldades manifestadas pelos educadores ao se relacionarem entre si e sobre
a atitude de cuidado com a saúde vocal, no decurso do cotidiano de suas atividades educativas.
O momento da formação continuada junto aos docentes é
uma proposta oferecida pela Prof. Drª Sandra Rocha juntamente com os graduandos
em Musicoterapia integrantes do projeto de extensão. Configura-se como um
espaço-tempo em que os docentes vivenciam experiências musicais
musicoterapêuticas numa perspectiva de intervenção breve e preventiva
psicossocial (PELLIZZARI
e RODRIGUEZ, 2005).
São proporcionados três
encontros com os educadores, durante três semanas consecutivas no momento do
recreio (15 minutos), dentro da escola, em que se utilizam técnicas de
relaxamento corporal e de auto-percepção, com recursos de músicas gravadas ou
tocadas em instrumento musical (teclado), associadas à disponibilização de
folders para conscientização da saúde vocal e demais aspectos inter-relacionais.
No
primeiro contato efetiva-se o contrato terapêutico (D’ACRI, 2009) onde se
estabelece, juntamente com os participantes, a forma como se dará os encontros
além de esclarecer aspectos éticos. O momento das intervenções divide-se,
basicamente, em quatro ações: fala sobre cuidados da saúde e exercícios;
percepção corporal; experiência musical, relacionada ao canto, improvisação
musical (BRUSCIA, 2000), técnicas de relaxamento e manuseio de instrumentos musicais coletivamente, em
que podem ser associadas informações adicionais sobre auto-percepção e cuidado
com a saúde; e por ultimo o momento de feedback dos participantes.
Resultados
Ao focarmos na saúde vocal,
pôde-se perceber a necessidade e as duvidas que os educadores possuem com
relação a manutenção e prevenção da voz, conseguindo assim evidenciar a importância
que o tema adquire para os mesmos, despertando o interesse pela saúde vocal. Os
folders proporcionados foram manuseados com muita atenção pelos educadores
ampliando a conscientização sobre a saúde vocal.
Durante a
aprendizagem das técnicas de relaxamento para percepção corporal, os educadores
iniciaram uma possibilidade de observação do próprio corpo, como se encontravam
no momento da intervenção e levando-os a uma maior percepção das tensões
causadas pela rotina do dia a dia, refletidas no corpo. As ações musicoterapêuticas
proporcionaram a aprendizagem de métodos de relaxamento corporal e dicas de respiração
correta, embora pouco executadas pelos docentes.
Ao
trabalhar a aproximação do grupo, verificamos que no inicio ocorria um
distanciamento e pouca adesão dos docentes nas ações. No continuum das ações, verificamos um aprimoramento das relações no
que se diz respeito ao contato, visto que se aproximaram e se tornaram mais
permissivos no que diz respeito a expressão e exposição no meio grupal, proporcionando a integração entre si e
a diluição de possíveis resistências grupais.
Na
improvisação, foram detectadas algumas dificuldades no que diz respeito à
exposição das próprias dificuldades junto ao grupo, através da presença de um
silenciar. Os docentes tiveram muitas dificuldades em criar frases e sugerir
palavras que expressassem o seu cotidiano e trazer conteúdos e/ou elementos que
falassem dos seus desejos, insatisfações, resoluções para as problemáticas
vivenciadas etc. Em suas falas eram presentes as seguintes expressões durante o
canto: “nossa que música difícil!”, “hoje está difícil”, “na semana passada a
música era mais fácil” (sic). Apesar da mediação das musicoterapeutas, o grupo
ainda se mostrava em dificuldades para aderir com espontaneidade às ações
musicoterapêuticas.
Quanto
a expressão dos conflitos internos, percebemos que ao longo dos encontros os
educadores começaram a se abrir e expressar conteúdos pessoais. Aos poucos as
docentes começaram a expressar suas dificuldades com relação as atividades pedagógicas a
cumprir no decorrer do dia com as crianças e por se sentirem limitados na
utilização de novos recursos.
Nos feedbacks (MOSCOVICI, 2001), vários educadores
relataram observar um alivio
do estresse ao voltarem para as salas de aula, percebendo-se mais alegres.
Referiram-se ao momento vivido como “um tempo para a gente relaxar” (sic).
Percebemos que as intervenções
musicoterapêuticas oferecidas aos educadores, proporcionaram um momento para a
ampliação do olhar para a saúde vocal, alem de trazer uma aproximação entre os
membros do grupo, uma ampliação da auto-percepção frente ao cotidiano escolar e
expressão de conflitos internos vividos junto aos alunos.
As ações musicoterapêuticas
efetivadas se aproximam da perspectiva da Musicoterapia Preventiva Psicossocial
(PELLIZZARI e RODRIGUEZ, 2005), que tem como objetivo “desenvolver uma observação das situações de
conflito, seja com crianças ou adultos. Sua eficácia está em detectar estados
de vulnerabilidade e fortalecer mecanismos de proteção” (PELLIZZARI apud. SILVA,
2011).
Conclusões
A
experiência confirmou a importância de se pensar na saúde do educador, uma vez
que, em um nível auxiliar (BRUSCIA, 2000), a Musicoterapia proporciona o
relaxamento corporal, a redução de estresse e a melhora do rendimento em
atividades.
Numa
perspectiva preventiva psicossocial em Musicoterapia, não olhamos apenas para
fatores físicos, mas sim para a totalidade da pessoa, em que corpo e mente e
interação social são aspectos indivisíveis e que fazem parte da vida de
qualquer ser humano, em qualquer ambiente.
Proporcionar
aos educadores um espaço-tempo qualificado de promoção de saúde, mediado pela
Musicoterapia, é atuar na perspectiva da prevenção de estados de adoecimento,
favorecendo o fortalecimento dos núcleos saudáveis das pessoas, adquirindo
capacidades que reverberarão em suas ações cotidianas e em seus contextos de
vivência.
Referências Bibliográficas
BRUSCIA, Kenneth. Definindo Musicoterapia. 2ª ed. Rio de Janeiro; Enelivros, 2000.
D’ACRI, Gladys Costa de Moraes Rêgo Macedo. Reflexões sobre o Contrato terapêutico como instrumento de autorregulação do Terapeuta. In: Revista de Abordagem Gestalt. v.15, n.1, Goiânia, jun. 2009.
MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento Interpessoal. 11ª ed., Rio de
Janeiro, 2001.
PELLIZZARI, Patricia C. e RODRIGUEZ, Ricardo J. Salud, Escucha y Creatividad. Musicoterapia
Preventiva Psicosocial. Buenos Aires, Argentina: EUS, 2005.
SILVA, Laryane Carvalho Lourenço da. A Musicoterapia num contexto educacional: Perspectivas de atuação. In: Revista
Brasileira de Musicoterapia. Ano XIII, n. 11, 2011.
“Resumo
revisado pela coordenadora do Projeto de extensão: A mediação da
Musicoterapia na Trans-Formação da comunidade escolar rumo a Ecoformação -
EMAC-162, coordenado pela Profª Drª Sandra Rocha do Nascimento”. Financiado
pelo PROBEC 2012-PROEC/UFG.
2Discente do Curso de Musicoterapia, bolsista do
MEC/SESU/PROEX-2011. karyllaamandla@yahoo.com.br
3Docente do curso de Musicoterapia. Musicoterapeuta,
Coordenadora do projeto de extensão EMAC-162. srochakanda@gmail.comA MEDIAÇÃO DA MUSICOTERAPIA PARA O ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS: RESSIGNIFICANDO A FORMAÇÃO CONTINUADA DE EDUCADORES
VALENTIN, Fernanda
NASCIMENTO, Sandra Rocha do
Escola de Música e Artes Cênicas - UFG
(Trabalho apresentado no Simpósio da Faculdade de Educação/UFG-2011)
Os índices de
violência nas escolas mantêm-se ascendentes, inviabilizando os processos
de ensino-aprendizagem e proporcionando, a curto prazo, a ampliação de
situações de conflitos entre os sujeitos da comunidade escolar. Continuamente
os educadores se queixam sobre a falta de preparo para lidar com as situações
de conflito que convergem para atitudes agressivas, se percebendo fragilizados
emocionalmente e com sérias dificuldades em realizar ações conjuntas.
Não preparados para o
enfrentamento dessas situações, como conseqüência, podem ocorrer diversos sintomas de
adoecimento, tais como: presença acentuada de abstenseísmo,
estresse, ansiedade, depressões, desajustamento no grupo, Síndrome do Pânico e
a Síndrome de Bournout (MARTINS, 2007).
Dentro do contexto
escolar, com a diversidade de atores que o compõe, cada qual em seu lócus
de atuação, as situações de violência ora adquirem significações semelhantes,
ora contrárias e mesmo contraditórias.
Segundo Abramovay
(2003), não existe um consenso sobre o significado de violência, dificultando a
definição e sendo delimitado pela unidade de ensino e seus atores. Para a
autora, “a percepção da violência no meio escolar muda de acordo com o olhar
pelo qual esse meio é abordado” (p.21), isto é, “o que é caracterizado como
violência varia em função do estabelecimento escolar, do status de quem
fala (professores, diretores, alunos, etc), da idade e , provavelmente, do
sexo” (ibidi.).
Assim como as
representações, as ações dos diversos atores frente as situações de violência
escolar também se diferenciam. Abramovay (2003) afirma que para compreendermos
a violência escolar se faz necessário considerar as variáveis endógenas e
exógenas em sua conformação. Como questões exógenas, diversos aspectos externos
são considerados: as questões de gênero, as relações raciais, as
características familiares, a influência dos meios de comunicação, o espaço
social das escolas etc. Referente aos aspectos internos, fatores como: a idade
e a série ou nível de escolaridade dos estudantes, as regras e a disciplina dos
projetos das escolas e o impacto do sistema de punições adotado pela mesma, o
comportamento dos professores em relação aos alunos e a prática educacional.
A autora enfatiza,
ainda, que “embora os fatores externos tenham impacto e influência sobre a
violência escolar, é preciso tomar cuidado com o fator de que, dentro da
própria escola, existem possibilidades de lidar com as diferentes modalidades
de violência e de construir culturas alternativas pela paz, adotando
estratégias e capital da própria escola” (op.cit., p.25).
Patto (2005) sustenta
que além de considerarmos a violência nas escolas se faz
necessário levar em conta a violência das escolas, apontando que
existem três formas básicas em sua configuração que levam, principalmente, ao
desrespeito da categoria profissional dos professores: os baixos salários, a má
qualidade dos cursos de formação e a exclusão dos docentes dos processos
decisórios. Devido a esses fatores e muitos outros aspectos, o ambiente escolar
tornou-se um espaço de mútua culpabilização e desrespeito, onde os diversos
atores imputam uns aos outros a culpa pela violência escolar. No entanto, a autora
afirma que a “vítima” de toda essa violência são TODOS os sujeitos que
trabalham e convivem nas escolas.
Dentro dos espaços
escolares, muitas propostas de resolutividade encontram-se sustentadas na
lógica ameaça-punição ou na racionalidade, buscando por explicativas que
favoreçam ações gerais, planejadas para qualquer situação de conflito sem
considerar as especificidades de cada cincunstância.
Apontanto para outra
perspectiva, alguns autores (PATTO, 2005; ABRAMOVAY, 2003) avançam em outras
proposições de resolutividade. Patto (2005) sustenta que, “a única atitude
coerente a tomar é repensar, com honestidade de propósitos e com a participação
de todos os integrantes da vida escolar (...) para que se possa identificar
corretamente o inimigo e romper o circulo vicioso de acusações mútuas” (p.36).
Para Abramovay (2003), “é justamente por sua complexidade e multiplicidade de
facetas que a compreensão do fenômeno das violências nas escolas impõe o
desafio de uma ótica transdisciplinar, multidimensional e pluricausal” (p.27).
A partir dessas
considerações, compreendemos que se faz urgente encontrar soluções de cunho
humanístico para essa problemática, considerando que outras dimensões do ser
humano influenciam na compreensão sobre a violência. Dentre esses, os fatores
subjetivos dos profissionais da educação pouco são enfocados pelos teóricos,
centrando suas explicativas principalmente sobre os fatores socias.
Sustentamos que não
considerar os fatores subjetivos reduz a compreensão sobre a violência nas escolas,
fator que corrobora também para uma resolução reduzida em poucos aspectos.
Desta forma, não excluimos a dimensão subjetiva dos docentes quando
buscamos compreender sobre os
multifatores que levam às situações de violência nas escolas, bem a consideramos
quando das possibilidades de resolução dos conflitos.
Diante dessa
perspectiva, desenvolvemos um projeto piloto na rede educacional do Governo do Distrito
Federal com o objetivo de qualificar docentes, a partir da mediação da
musicoterapia, para o enfrentamento da violência nas escolas e o manejo
das diferentes situações correlacionadas. Em decorrência de alguns estudos
desenvolvidos no FIB-DF 2007 e 2008 (1), efetivamos a construção do Projeto de
Extensão intitulado “Ressignificando a Educação: espaços e tempos de Paz
mediados pela Musicoterapia”(2), desenvolvido através da cooperação
interinstitucional entre o Programa Mais Educação/MEC, o CEAM/UnB e a EMAC/UFG.
A
Musicoterapia, enquanto projeto diferenciado na formação continuada de professores,
propõe experiências musicais
musicoterapêuticas (técnicas e procedimentos musicoterápicos) nas quais a música aparece como elemento principal de
sensibilização e criatividade, propiciando, na maioria das vezes, diversas
transformações. Objetivamos, com este trabalho, melhorar o auto-conhecimento e
a percepção sobre os demais atores participantes do processo
ensino-aprendizagem (alunos, colegas, funcionários e gestores),
possibilitando, ao educador, a
oportunidade de re-significar sua
prática docente.
Numa perspectiva humanística, a proposta de inserção da Musicoterapia
nas iniciativas de qualificação docente visa resgatar e desenvolver habilidades
e competências intrapessoais e interpessoais no sentido de criar ambientes
educativos mais pacíficos. A proposta de
inserção da Musicoterapia na formação continuada dos docentes utilizou o modelo
de Educação de Laboratório (ARGYRYS apud MOSCOVICI,2008), o qual fundamenta-se
na ideia de que os indivíduos, ao vivenciarem situações e/ou experiências,
poderão conhecer melhor os próprios limites, preferências e características
pessoais, e assim agir de forma diferenciada. O foco do aprendizado recaiu
sobre a dimensão das atitudes manifestadas na relação educativa, englobando
funções e experiências cognitivas e afetivas, em um ciclo de quatro etapas
sequenciais e interdependentes: atividade, análise, conceituação e conexão com
a realidade.
Como
aspecto diferenciador, a aprendizagem vivencial incluiu experiências musicais
musicoterapêuticas, isto é, através da música, do som e do movimento os
participantes vivenciaram o processo grupal, conduzindo à compreensão dos
fenômenos subjetivos e à aceitação da diversidade de expressões emergentes. Nesse espaço musicoterápico são desenvolvidas atividades que
valorizam a auto-expressão e a interação grupal, possibilitando o resgate de
elementos motivacionais internos e externos, o que interfere sobremaneira nas
relações intra e interpessoais.
Diversos temas foram abordados durante os momentos de teorização, tais
como: representações sociais; a escuta sensível, percepção sobre outras pessoas
e profecia auto-realizadora; professor reflexivo; habilidades interpessoais;
competição e cooperação; dinâmica e coordenação de grupos; estilos de
comunicação; motivação e resistências humanas; autoritarismo e autoridade na
relação educativa; mémórias e ludicidade; entre outros temas.
Obtiveram-se como resultados o
resgate e desenvolvimento de habilidades e competências intra e interpessoais e
a ressignificação das representações sobre os diversos fenômenos vivenciados.
Junto aos docentes, observamos ganhos substanciais, principalmente no que tange
à conscientização da importância de se resgatar o sensível no âmbito escolar e
ao proporcionar reflexões sobre a prática pedagógica
numa abordagem humanista, mediada pela Musicoterapia. Dentre os aspectos
alcançados, emergiu a mudança na escuta e no olhar docente sobre seus
alunos, evidenciada diversas falas tais como:
“aprendi que para ensinar é preciso escutar o outro”. Mudanças pessoais e
de condutas frente as situações de conflito, através de posturas de
reflexão e ressignificação sobre a pratica pedagógica e um aumento da
autopercepção frente as circunstâncias vivenciadas também foram amplamente
verificadas.
Os dados obtidos
apontaram para os seguintes resultados quali-quantitativos: 92,85% dos
participantes evidenciaram um aumento da reflexão e autopercepção com
falas que expressavam conteúdos como: “Fico às vezes, surpresa com as
descobertas que faço de mim mesma, das dinâmicas e as emoções e sentimentos
experimentados”; 28% dos participantes perceberam mudanças pessoais e de
conduta, expressando discursos como “no meu dia-a-dia me pego pensando e
tentando mudar o meu ‘eu’ e a partir daí entrar numa sintonia com o ‘outro’”.
Referente à abrangência do mini curso para o trabalho pedagógico, 71,42%
dos educadores afirmaram ouvir os alunos de maneira diferenciada, afirmando
“muito que aqui aprendi e irei aprender estará nos gestos, atitudes e posturas
diante de meus alunos”; 28,57% dos professores se perceberam estimulados a
ensinar seus alunos, expressos como “levar aos alunos oportunidade de se
perceberem e perceberem ao outro; 87,5% afirmaram perceberem-se adquirindo a
capacidade de ouvir os alunos de maneira diferenciada, com expressões como “aprendi
que para ensinar é preciso escutar o outro”.
Percebendo o
potencial e a abrangência da Musicoterapia na formação continuada dos
educadores, acredita-se que esta iniciativa possa viabilizar outras
propostas a serem desenvolvidas e ampliadas dentro de uma política pública
nacional voltada à humanização dos espaços escolares, fazendo emergir ambientes
mais pacíficos.
O ser humano é uma espécie que se
diferencia das demais, principalmente, por sua subjetividade. Ele se utiliza de
diversas formas de linguagem para se relacionar no mundo - gestos, sinais,
palavras, sons, gritos, silêncios, cores, músicas etc. Nos casos de violência, muitos são os
conteúdos que ficam no campo do não-dito. Abrir outros canais de comunicação
através do não-verbal e da música, particularmente, pode propiciar a
externalização de conteúdos guardados, e, conseqüentemente, promover mudanças
(NASCIMENTO e CRAVEIRO DE SÁ, 2009).
Tanto o aluno quanto o professor,
atores essenciais no processo de ensino-aprendizagem, podem se beneficiar da
Musicoterapia por meio das sensibilizações, projeções e representações
agenciadas pela música e seus elementos constitutivos. As experiências musicais
interativas oportunizam a aceitação de expressões emergentes, da diversidade,
possibilitando a ressignificação da prática pedagógica.
Na fala de um dos
educadores, ao final do mini curso, encerra-se o alcance dessa nova perspectiva
na formação continuada: “Este curso acrescentou mais leveza e
criatividade a minha vida pessoal e profissional. Neste curso tive a
oportunidade de parar, pensar e buscar me encontra saber quem sou plenamente.
Pude perceber características a serem melhorada e outras a serem ressaltadas.
Características profissionais que foram “apagadas”. Sinto-me mais preparada
para lidar com o mundo novo da educação”. Em continuidade, outro educador
ressalta: “Rever a minha prática, estender o curso aos professores da rede –
mostrando a importância da prática mais dinâmica, do escutar, da criatividade,
ter expectativas positivas, trabalhar a afetividade, contribui para que a escola
seja lugar prazeroso, e a educação tenha QUALIDADE!”
Percebendo o
potencial e a abrangência deste projeto em gerar conhecimento sobre a
aplicabilidade da Musicoterapia na Educação, acredita-se que esta iniciativa
possa viabilizar outras propostas a serem desenvolvidas e ampliadas
dentro de uma política pública nacional voltada à humanização dos espaços
escolares.
Referências
ABRAMOVAY, Miriam. Violência
nas escolas: versão resumida. Miriam Abramovay et alii. Brasília: UNESCO
Brasil, REDE PITÁGORAS, Instituto Ayrton Senna, UNADIS, Banco Mundial, USAID,
Fundação Ford, CONSED, UNDIME, 2003.
MARTINS, L. M. A formação social da personalidade do
professor: um enfoque vigotskiano. Campinas: SP: Autores Associados, 2007.
– (Coleção formação de professores).
MOSCOVICI,
Fela. Desenvolvimento Interpessoal. Treinamento em Grupo. 17ª Ed. Rio de
Janeiro: José Olympio, 2008.
NASCIMENTO, S. R.; CRAVEIRO DE SÁ,
L. Musicoterapia: ressignificando o Ato Pedagógico. In: Anais do XIII Simpósio Brasileiro de Musicoterapia. Curitiba:
AMTPR, 2009.
PATTO, Maria Helena
de Souza. Exercícios de Indignação: escritos de Educação e Psicologia.
São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.
______________________
(1) Nos anos de 2007
e 2008 foi desenvolvido um projeto inserindo a Musicoterapia na capacitação
continuada para docentes da rede pública do GDF (Governo do Distrito Federal),
em que foram realizados mini-cursos no Festival Internacional de Inverno de
Brasília – FIB, sob a coordenação geral da Profª Ms. Beatriz Salles/ UnB. Ao
término dos mini cursos foram apresentados trabalhos pelas musicoterapeutas
Leomara Craveiro de Sá e Sandra Rocha do Nascimento, em eventos científicos
tais como: Seminário Nacional de Pesquisa em Música-EMAC/UFG, 2008; Simpósio da
Faculdade de Educação – UFG, 2008; XIII Simpósio Brasileiro de Musicoterapia,
UBAM, 2009).
(2) Formaram-se duas
equipes para a efetivação do projeto: a Equipe Coordenadora, contando com os
musicoterapeutas Leomara Craveiro de Sá,
Sandra Rocha do Nascimento, Fernanda Valentin e Alexandre Ariza Gomes Castro; e a Equipe Executora, contando com os
musicoterapeutas facilitadores Mônica Selma Deiss Zimpel, Renato Valim de
Paiva, Abiail Batista Rodrigues Alecrim Nascimento. O projeto teve início em
Dezembro de 2009 com o treinamento da equipe executora do projeto, contando com
a participação de 19 musicoterapeutas residentes nas cidades de Brasília e
Goiânia. Em Abril de 2010 iniciou-se o mini curso vivencial em duas escolas do
Distrito Federal, atingindo diferentes pólos. O Pólo 1, atendendo aos
professores das escolas da região de Taguatinga, Brasilêndia, Ceilândia e
Samambaia; e o Pólo 2, atendendo a região de Sobradinho, Paranoá, Planaltina e
São Sebastião. Foram efetivados oito módulos, em que a cada módulo do
curso, ministrado quinzenalmente em dois
períodos, contemplou a carga horária de oito horas.
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
professores de São Paulo sofrem de depressão Problemas de saúde são causados por estresse em sala de aula...aqui em Goiânia e no Estado de Goiás também encontramos numeros assustadores
02 de
outubro de 2012
Quase 20% dos professores de São Paulo sofrem de
depressão
Problemas de saúde são causados por estresse em
sala de aula, diz pesquisa
Fonte: R7
Quase 20%
dos professores da rede básica de ensino do Estado de São Paulo sofrem de
depressão. O dado foi revelado pelo levantamento A Saúde do Professor na Rede
Estadual de Ensino, feito pela Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino
Oficial do Estado de São Paulo) em parceria com o Dieese. Segundo o
levantamento, divulgado com exclusividade para o R7, entre as pessoas que
sofrem depressão, 57% acaba se afastando as aulas. A
pesquisa mostra que, além da depressão, os transtornos de ansiedade, também interferem
na probabilidade de afastamento do professor. O estudo com 2.500 professores da
rede revelou que 23% deles sofrem de ansiedade ou síndrome do pânico.
Segundo a
presidente do sindicato, Maria Izabel Noronha Azevedo, o dado pode impulsionar
políticas mais efetivas para tratar e prevenir a depressão entre professores.
— A vida
do professor não morre na sala de aula, por isso, temos uma luta grande para
implementar a jornada do piso salarial, que deve garantir tempo para que o
professor possa preparar suas aulas e receber por isso.
Afastamento
por doenças: De acordo com a pesquisa, apesar dos altos índices de doenças psicológicas, os
problemas físicos são os que mais causam o afastamento. Segundo a secretaria de
gestão pública do Estado, 3.817 professores efetivos estão afastados.
A
hipertensão arterial atinge 30% dos professores. Em 2011, 37,6% dos professores
que tiverem diabetes e 42% dos que tiveram asma, bronquite e outros problemas
respiratórios foram afastados.
Para
Maria Izabel, o governo precisa montar um grupo para trabalhar diretamente nas
escolas e descobrir o motivo do adoecimento psicológico.
— O
governo precisa definir o que quer da educação, de fato, e não procurar
culpados. Quando eles fazem isso, quem fica doente somos nós. Nós somamos todas
as profissões, não tem cabimento ficarmos largados, sem um olhar humano sobre
nossos problemas.
http://www.todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/educacao-na-midia/24298/quase-20-dos-professores-de-sao-paulo-sofrem-de-depressao/,
acesso em 02/10/2012.
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