NASCIMENTO, Sandra Rocha do; MENDES, Mariana Macedo; GONTIJO, Beatriz Santos; SANTOS, Hidequel Firmino dos; BORGES, Italo Geortown Gonçalves; MOREIRA, Raquel Ribeiro Arantes; SANTOS, Rafael Pereira dos.i
A extensão universitária, inserida no tripé indissociável ensino-pesquisa-extensão do ensino superior público no Brasil, obteve em 2018 a importante conquista de 'curricularização da extensão' através da Resolução CNE/CES nº 7, de 18/12/2018, oportunizando materializar e dar sustentabilidade a muitos dos objetivos postos pela Política Nacional de Extensão Universitária (PNEU/MEC, 2012).
Vasconcelos (2011) afirma que a aproximação e ou participação de universitários junto aos sujeitos da comunidade é essencial na construção da Educação Popular. No entanto, se faz necessário ser uma atuação constituída de um protagonismo efetivo de todos os envolvidos, em prol consolidar práticas sociais à transformação de realidades locais e dos processos acadêmicos, e expandir a produção científica sobre tecnologias desenvolvidas, resultados e mudanças sociais.
O projeto de extensão Vida Ativa-EMAC/UFG ii, destinado prioritariamente às pessoas da terceira idade, com público secundário desde crianças a adultos jovens bem como os acadêmicos dos cursos envolvidos, configura-se como grupo intergeracional, implementando ações de promoção da saúde sustentadas na proposta da musicoterapia preventiva psicossocial (Pellizzari & Rodriguez, 2005; Pellizzari, 2011) com ênfase no diálogo colaborativo e no fortalecimento de atitudes salutogénicas ou escolhas saudáveis à manutenção da saúde mental e biopsicosocioemocional. Falar das mudanças nas expressões dos participantes da comunidade é tentador, sendo usualmente demonstrado nos relatos de experiência das práticas extensionistas.
Priorizamos, aqui, validar as vozes dos monitores da equipe executora - considerando aqui todos como autores- trazendo suas compreensões por-eles mesmos para demonstrar a influência das ações extensionistas na formação de cinco acadêmicos do curso de Musicoterapia e um discente da graduação em Música, através de uma escrita pautada na perspectiva dialógica e colaborativa.
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Consideramos importante explicitar sobre a forma ou a 'estética narrativa' eleita à construção do artigo. Evidenciamos movimentos semelhantes aos gerados na extensão à constituição do musicoterapeuta social/comunitário durante a dinâmica de elaboração, quais sejam: a apropriação do próprio discurso, ou seja, falar na primeira pessoa tornando-nos, todos, protagonistas; falar sobre seus locus de existência e suas percepções singulares sobre os fenômenos observados/vividos; a presença de diversas e diferenciadas compreensões de cada autoriii, bem como suas aprendizagens construídas na extensão.
Nossa escolha se sustenta na compreensão do Construcionismo Social, em específico de J.Schotter, ao afirmar que "quando as pessoas conversam, elas não estão simplesmente colocando idéias em palavras, nem refletindo a verdade de uma realidade delas independente. Elas estão construindo sentidos, práticas sociais ou formas de vida".(Shotter, 2000 apud Guanaes & Japur, 2008, p.118). Propõe a poética social em pesquisa, previlegiando o "modo como os enunciados se relacionam e do modo como as pessoas constroem, entre si, numa ação-conjunta, espontânea e de uso corporificado da linguagem, determinadas realidades conversacionais".(Guanaes & Japur, 2008, p.119). O pesquisador
/.../vem dar forma ou sentidos aos "momentos marcantes" que capturaram sua atenção e despertaram seu interesse /.../. Ao dialogar com outros sentidos de mundo, próprios a sua história conversacional e à cultura da qual é parte, o pesquisador engendra tentativas de significação. /.../ criar um senso de experiência copartilhada, que serve de convite à participação de outros (leitores, pesquisadores, profissionais) no processo dialógico de construção de conhecimeto. (Guanaes & Japur, 2008, p.119-120).
O artigo está estruturado na seguinte estética narrativa: iniciamos com auto apresentações dos autores com suas identidades, i.é., suas cores de experiências próprias; seguimos com as reflexões, sob análise fenomenológicaiv, de três (3) cenas do encontro de musicoterapia social/comunitáriav; finalizamos com uma conversação dialógica e colaborativa entre os autores, evidenciando as interações e aprendizagens adquiridas através da extensão universitária.
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Sou Mariana, musicoterapeuta recém formada, trabalhando no Instituto de Musicoterapia Vida Sonora, oferecendo atendimentos de musicoterapia para grupos ou individual, na clínica, em domicílio e em instituições, atuando sozinha ou com outros profissionais musicoterapeutas ou de outras áreas. Tenho experiência em musicoterapia clínica, hospitalar e comunitária. Amo minha profissão e tenho orgulho de dizer que meu conhecimento é resultado da formação, intensiva e extensiva, oferecida pela UFG.
Olá, me chamo Beatriz e sou musicoterapeuta formada pela UFG. Atualmente atendo no Núcleo de Apoio e Inclusão Autista e sou musicoterapeuta voluntária no Hospital das Clínicas da UFG. Realizo aperfeiçoamento profissional no CRER e aperfeiçoamento em Tópicos de Psicobiologia pela USP. Amo música popular e não resisto a uma roda de chorinho.
Meu nome é Hidequel, sou graduado em musicoterapia pela UFG e atuo na área clínica, hospitalar, neurológica e de reabilitação. Na graduação participei de intervenções em projeto de extensão em musicoterapia comunitária, hospitalar e com musicoterapia vibroacústica. Gosto de tocar violão, instrumentos percussivos e compor canções. Participo desde a graduação da banda formada por minha turma, os musicoterapirados, que fazíamos e ainda fazemos apresentações musicais tocando e cantando canções autorais.
Oi, me chamo Italo e ainda sou aluno do curso de Musicoterapia da UFG, no “último ano”, preparando para me formar. A Musicoterapia me proporcionou muitas experiências em um período de tempo relativamente curto, experiências estas que me transformaram de uma forma intensa e que levo não somente para a vida profissional, como também para minha construção como indivíduo.
Olá, meu nome é Raquel, sou recém formada em Musicoterapia pela UFG e atualmente trabalho com atendimentos domiciliares e no Núcleo Educacional e Terapêutico Despertar, atuando na área da reabilitação cognitiva para pacientes com deficiência intelectual.
Olá, meu nome é Rafael, sou aluno do curso graduação em música/violão na UFG. Eu sou um apaixonado por música desde criança, gosto muito de pessoas, fascinado pela mente humana além de acreditar no potencial do Ser. Adoro natureza, holismo e liberdade. Tenho um profundo desejo de aprender música na sua essência e poder ver além do que as notas possam descrever.
Sou Sandra, musicoterapeuta desde 1995, doutora em educação e docente do curso de Musicoterapia/UFG já transcorridos 13 anos (precedidos por atuações como educadora musical em escolas públicas e musicoterapeuta em escolas de ensino especializado). Me defino como uma professora extensionista, pois vejo na extensão universitária espaços
tempos de trans-formação de pessoas e com pessoas em seu contextos. Como musicoterapeuta social atuo na perspectiva de promoção da saúde integral e sistêmica em contextos comunitários, levando a música para fora, para outros lugares, para que acolha e torne saudável cada Ser Humano em seus contextos de vivência.
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Figura 1. Acolhimento inicial dos participantes no grupo Vida Ativa
Vejo três mulheres que participam do grupo Vida Ativa a mais de 2 anos. Elas olham para a mesma direção e demonstram passar por um momento bom, com grande carga emocional manifestadas em suas expressões faciais (olhos fechados, cabeça inclinada e o sorriso mediano). Mariana
Eu vejo o reencontro das idosas participantes do grupo com a antiga equipe de monitores. Nesse momento as idosas estão sorrindo e demonstrando expressão de estarem emocionadas ao ouvirem as canções que fazem parte da história musical do grupo. Beatriz
Percebo o perfil das mulheres idosas (e as costas de uma menina), todas sentadas e com o olhar fixo para frente. A primeira idosa (no primeiro plano da imagem) traz um semblante alegre com um leve sorriso (mas que ainda não "mostrou os dentes") e parece estar emocionada. A segunda demonstra uma leve expressão de sorriso e olhos semi cerrados. A terceira está mais introspectiva com pouca expressão de sorriso. Hidequel
Percebo olhares de satisfação, com expressões faciais que me remetem a serenidade e ao orgulho de ter alcançado algo de grande valor, transmitindo um significado de unidade no grupo. Os olhares estão voltados para um ponto que aparentemente comove e promove a paz que percebo nos semblantes das participantes. Italo
Observo a expressão de emoção e alegria de uma das idosas, expressão sempre presente em todos os encontros. Percebo também, o olhar fixo e atento das três demonstrando interesse e alegria em participar da vivência grupal. A idosa do meio parece estar acompanhando e cantando junto com o grupo. Raquel
Olho as três e vejo: uma está com um sorriso emocionado, com a cabeça um pouco inclinada e olhos bem abertos; outra sorri expressando felicidade e olhos meio fechados e sorriso contido, mas que parece expressar que algo a deixa animada; e ainda outra está com os olhos fechados parecendo mais absorta, com a postura reta e reflexiva. Rafael
Figura 2. Experiência musical re-criativa coletiva e outros dispositivos técnico expressivos
Este momento, para mim, retrata movimentos intensos do grupo -físicos, emocionais e sonoros-, marcados pela variedade de expressões faciais, sorrisos, olhares. Vejo a música conduzindo a integração das pessoas, numa mistura de idades e subjetividades, mesmo tendo alguns mais distantes fisicamente. É um espaço colorido, diversificado em idade, profissão, religião e histórias de vida. Mariana
Eu visualizo detalhes nas diferentes formas de interações: sonoras, pela voz e instrumentos musicais; corporais, pelas manifestações de afeto, nos sorrisos, olhares, afagos; e por meio da escrita, nas marcas de afeto deixadas nas camisetas dos monitores da equipe. Beatriz
Vejo na imagem de um grupo intergeracional e seus corpos em lugares diferentes dentro de uma sala: alguns estão sentados em cadeiras próximas às paredes e janelas, outros sentados no centro da roda tocando instrumentos musicais e cantando, e outros de pé escrevendo com canetões nas camisetas dos discentes sentados no chão ao centro da roda. Interagem de formas diferentes, algumas com olhares, outras com toques físicos e outras com sons. Hidequel
Para mim é um momento de grande movimentação: de tocar, de ser tocado, de dar e também receber. Percebo uma criança com expressão de surpresa (estaria em contato com algo novo?), ao mesmo tempo em que vejo participantes que podem ser consideradas mais “experientes de vida” e nós alunos. É um misto de pessoas com juventude, novidades e experiências. Italo
Eu vejo uma forte interação grupal, onde todos se uniram em um movimento de conexão musical (troca de instrumentos, canto) e física (abraços, sorrisos, olhares) e com muitas cores. O espaço físico mais fechado deixa as pessoas próximas e mostra ser acolhedor, realizando mais trocas musicais e expressivas entre todos. Raquel
Ainda vejo pessoas com suas diferentes ações e movimentos: uma tocando violão e sorrindo, outras agachadas para escrever nas camisetas de quem está no chão, um garoto olhando de longe para alguma coisa, uma senhora andando pela sala de cabeça baixa, a professora de musicoterapia sorrindo, outra senhora em pé observando o que acontece, e outra numa cadeira de rodas também escrevendo na camiseta, e ao fundo pessoas sentadas nas cadeiras parecendo só olhar o que acontece. Rafael
Figura 3. Finalização do encontro e da experiência musical
Nesta foto eu vejo meus colegas e eu expressando num mesmo instrumento, sorrindo, cantando, olhando para o centro, tocando no mesmo ritmo, cuidando do espaço compartilhado, com nossas camisetas de cores e nossas personalidades diferentes mas que se complementam. Mariana
Lembro de nós (seis estudantes da UFG recém calouros e membros do projeto vida ativa de 2016 a 2017). Agora, em 2019, voltados uns para os outros e direcionados ao instrumento musical, vivemos algo juntos e com as participantes da comunidade (posicionadas ao nosso redor), todos em uma única sintonia de sonoridades e suas diferentes experiências. Beatriz
Vejo cada um sentado no chão, em círculo, tocando o objeto sonoro percussivo com ambas as mãos. Em nossos semblantes vejo que estamos sorrindo e 'aparentemente' fazendo sons vocais ou cantando uma canção. Em volta, algumas pessoas estão olhando, algumas de pé e outras sentadas e ainda alguém escrevendo nas costas de um dos monitores. São posições diferentes num momento vivido em comum. Hidequel
Nesta imagem vejo elementos que estão presentes em nossa equipe desde o início: interagindo, experienciando, aprendendo e criando um vínculo intenso, num mesmo nível de atuação. Vejo sorrisos e trocas de olhares que indicam uma auto e mútua satisfação. Nas pessoas em volta do círculo, vejo-as como uma camada externa que nutre o que está dentro, no centro. Ítalo
A imagem me mostra algo importante sobre nós: estamos próximos. Seja sentados no círculo, ou dividindo o mesmo objeto, ou com nossas mãos unidas num único ritmo em cima do instrumento musical, nossas expressões mostram a conexão antiga do grupo, com troca de olhares, sorrisos, alegria de tocarmos juntos e compartilhando nossos sons com as pessoas presentes. Cada um de nós com uma cor diferente, colorindo e alegrando o ambiente.
Raquel
Eu vejo nós, jovens, juntos, mas com 'miradas' (direcionar o olhar) diferentes: dois rapazes um de frente para o outro que se encaram e sorriem; duas moças que estão com os olhos fechados; e um casal de costas que olham para alguém a frente; um rapazes olha para o colega que está do seu lado; e outra moça olha para a colega a sua frente. As pessoas em pé parecem olhar para os movimentos dos que estão ao centro. Rafael
Nestas narrativas escutamos e vemos não apenas descrições de imagens, mas também 'textos internos' que trazem outros elementos não visíveis. O-que-se-vê 'dialoga' com o pensar-sentir de cada um, e os 'textos' vão se aproximando, incluindo outras narrativas. No diálogo com textos acadêmicos novos entendimentos surgem, mudando repertórios linguísticos que internalizados modificam percepções e ações, como podemos verificar nas expressões que se seguem.
Através da observação das fotos e relembrando o que vivi, eu, Mariana, percebi modificações na formação do grupo das idosas e como se adaptaram aos contextos diferentes, desde as visitas em domicílio até os grupos na UBS. A música teve um papel essencial na movimentação grupal, integrando os participantes, estimulando a expressão corporal, a comunicação expressiva e receptiva, acolhendo pessoas, sentimentos e ideias. Na figura 2 vemos muito bem quando musicoterapeutas e participantes se encontram pela música.
Diversos autores sustentam sobre a música auxiliando nos vínculos entre pessoas. Ruud (1990) afirma que a música cumpre, com sua função primordial de causar impacto, a geração de movimentos no corpo, nas emoções e nas relações. Para Cunha (2016) “nesse espaço, musicoterapeuta e grupo agem mediados por elementos/.../ o compartilhamento de ações solidárias nas quais a sonoridade e a musicalidade se presentificam como um agente que elicia e sustenta as relações entre as pessoas”.(p.243). Com a estrutura rítmica que finaliza o encontro do grupo (figura 3), lembro de Melo, Filho e Chaves (2014), afirmando que “quanto maior o nível de envolvimento afetivo do grupo, maior o estado de coesão grupal, e, consequentemente, uma produção sonora coesa"(p.56).
Outro fator importante é o resgate de memórias e o desbloqueio emocional gerado por músicas que sustentaram experiências grupais positivas (figura 1), facilitando a expressão emocional. Bruscia (2016) salienta que “ouvir música fornece acesso fácil a nosso mundo emocional e a nossos sentimentos, memórias e esperanças que temos experimentado em nossas vidas. A música literalmente testemunha nossas vidas”.(p 137). Para Berger (2003),
/.../ a música, como parte integrante do comportamento humano, existe precisamente para o propósito de expressão emocional e para auxiliar no processo de adaptação dos seres humanos ao seu ambiente. /.../ precisamos dela para redirecionar tensões, organizar o comportamento e expressar emoções.(p.130) vi (tradução feita pelo autor)
Cada participante acrescentava um saber novo, uma canção e uma história, enquanto através de nossas musicalidades auxiliavamos na construção do encontro. Construía-se uma verdadeira “colcha de retalhos”, colorida pelos timbres explorados, diversa nas diferentes formas de encarar o viver e rica pelas experiências partilhadas. Mesmo nos momentos em que o grupo se deparava com sofrimentos coletivos (luto de uma colega) ou de assuntos pessoais complexos (violência doméstica), a música conseguia ajudar na expressão daquilo que não se conseguia dizer, como uma metáfora da palavra (Barcellos, 2009).
Para mim, Beatriz, percebo que no encontro do grupo estão bem presentes grandes emoções -quer nas participantes quanto na equipe de monitores-, pelo reencontro musical-físico-emocional, ao rememorarem momentos marcantes. Na figura 3 vislumbro as diferentes formas de interação entre os participantes e alguns elementos musicoterapêuticos valiosos: a música, a sincronia, o grupo dos participantes e nós (como parte dele enquanto equipe).
A música se apresenta através de um instrumento integrador (Benenzon, 1988), que parece “centrar” todos nós, fazendo-nos estar numa mesma frequência sonoro-ritmica-coporal sem que palavras fossem ditas, todos em constante troca e comunicação por meio de olhares, sorrisos e do musical. Outro elemento que me chama a atenção é a forma como fomos nos alinhando enquanto equipe durante a participação na extensão até o registro desta foto. Desenvolvemos recursos internos de "autorregulação organísmica" (Ribeiro, 1984 apud Junqueira, Lima, 2016) e ampliamos nossa escuta musicoterapêutica, compreendendo que ela vai além das construções sonoras entrelaçando-se com todo o não-verbal presente no entorno dessas construções sonoras. Nas manifestações sonoras das participantes, e durante nosso próprio processo de desenvolvimento pessoal, observamos os resultados atingidos a partir das relações constituídas através do sonoro-musical:
[...] a ampliação da autoexpressão nos idosos através do aumento da comunicação de seus sentimentos, a interação positiva entre gerações com demonstrações de afeto entre os membros, que sorriam e escutavam mais uns aos outros, e também o fortalecimento grupal e individual sobre os temas trazidos. Através do canto foi possível diluir resistências e trazer a sensação de relaxamento, expressa nas narrativas de todos.(Gontijo, Mendes e Nascimento, 2018, p.784).
Observamos (figura 2), assim, elementos tais como: a interação do grupo por meio das trocas musicais e de expressões positivas; a autorregulação do grupo indicada pelo fortalecimento grupal e individual dos participantes; e o recurso musical como forma de aproximação e quebra de resistências, tal como o instrumento integrador; e o canto de canções que assumem um papel importante ao 'diluir resistências' e facilitar a autoexpressão. Ressalto uma ressonância entre todos através da experiência musical, configurando uma união de intersubjetividadesvii, visto que os sons que produzimos afetam o outro e os sons do outro nos impactam.
A experiência musicoterapêutica fez com que todos os participantes se sintonizassem por meio do fenômeno musical e das lembrança e suas histórias. Nas marcas de afeto e aprendizado que deixaram em nós -por meio de suas assinaturas em nossas camisetas-, agora não expressam apenas as suas atitudes de grupo. Há um espaço de constante troca e construção, onde as subjetividades se encontram e co-constroem outras histórias.
Para mim, Hidequel, na figura 3 percebo o significado de coesão e trabalho em equipe expresso por palavras como parceria, completude, união, consonância, sintonia, harmonia, compartilhamento, pertencimento, equilíbrio, entre outras. Surgiram através do contato, da entrega, do permitir-se, do doar-se e também do receber, do aceitar, do aprender e do crescer. Vemos o resultado e fechamento de um cicloviii, algo parecido com aquelas confraternizações de final de ano quando olhamos para trás e recordamos cada parte do caminho trilhado até aquele momento. Agrego na minha compreensão o trecho da canção autoral feita para homenagear as idosas do projeto neste exato momento: “A vida é uma jornada, Os anos são a nossa estrada, Pra aprender e ensinar, Pra crescer e frutos dar”. (Santos, 2017). Para Milhomem (2007 apud Mendes Gonçalves, 1992), nós, seres humanos, somos seres em constante construção, que no decorrer do tempo vamos 'nos fazendo' através de nossa prática/ação. O autor prossegue dizendo:
É, assim, um ser histórico, que vai se construindo no espaço social; não é uma realidade dada, mas fundamentalmente um sujeito que vai construindo a sua realidade. Esta construção que o homem faz inicia se com a sua relação com a natureza, que é a fonte da vida material e essa, por sua vez, cria novas necessidades (op.cit., p. 102).
Eu, Italo, ao olhar para as fotos percebo um aspecto em comum em todas as imagens: os olhares das pessoas (que muitas vezes se cruzam ou presentes mesmo quando não se encontram) e exprimem uma certa satisfação. Compreendo que esta satisfação pode se relacionar ao sentimento de pertencimento, ou melhor, à consciência de pertencer. Como um dos aspectos que deve ser considerado ao se analisar um processo grupal, desenvolver tal ‘consciência de pertencimento’ leva o indivíduo a tomar o grupo como referência para sua própria vida, que só se torna possível a partir do momento em que este identifica-se e sente-se parte (Martin Baró, 1989). Desta forma, os comportamentos que sugerem o sentimento de satisfação (figuras 2 e 3) vão além dos participantes do grupo, incluindo também os monitores co-terapeutas e a docente musicoterapeuta.
Exercendo papéis diversos no grupo, o rol de co-terapeuta é bem recorrente nos monitores, sendo alvo de transferências das participantes (ao manifestarem projeções de seus vínculos familiares) e em outros momentos fazendo surgir nossos próprios fenômenos contratransferenciais ao identificarmos com suas histórias. Sinto que ao acessar as memórias relacionadas ao projeto Vida Ativa, são evocados um misto de sentimentos que muitas vezes se tornam difíceis de processar rapidamente, e por dias ou até semanas após os encontros me deparava refletindo sobre o que havia ocorrido. A música pode ser condutora de movimentos transferênciais e contratransferênciais em um trabalho musicoterapêutico grupal em comunidade, assumindo a função de intermediar tais fenômenos - dentro da relação musicoterapeuta-paciente (Bruscia, 1998)-, e oportunizando uma gama de recursos para o musicoterapeuta manejá-los.
Para mim, Raquel, compreendo que a figura 3 traz reflexões importantes, dentre elas algo que eu realmente vivi durante a graduação ao fazer parte da história de todos os envolvidos. Ou seja, me faz refletir sobre a conexão com os meus colegas através do e com o fazer musical coletivo, o que refletia nas idosas ao se integrarem conosco nos sons, levando a promoção de saúde através da música e refletindo positivamente no cuidado com o outro. Para Diniz e Oliveira (2006, p. 34), "pensar a música sobre o foco da saúde pode parecer estranho. Porém, assim como a saúde, a música é inerente ao homem, peculiar a ele. A música por si só é transformadora, capaz de alterar os estados psíquicos e físicos do ser humano".
Eu, Rafael, observo nas figuras 2 e 3 uma 'conexão' entre todos, mesmo naqueles mais distantes, aspecto que sempre me chamou a atenção como músico ao tocar para várias pessoas. Glaser (2017) afirma que “há uma parte do cérebro que se ativa quando nos conhecemos. É chamado de "como eu/não como eu", parte do cérebro ou o Cortex Pré-frontal Rostromedia (RPC). Quando pensamos que as pessoas são como nós, o RPC acende e nos conectamos facilmente”(Glasser, 2017). O autor ainda diz que,
Há outra parte do nosso cérebro que tem um impacto maior sobre nós –e que explica a conexão profunda. Esta parte do cérebro é chamada de Junção Temporoparietal ou TPJ. Esta parte do nosso cérebro é ativada quando compartilhamos com os outros. Quando compartilhamos ativamente com os outros –compartilhando segredos profundos, compartilhando o que está em mente, compartilhando nossos medos, nossos sonhos e nossas aspirações, o cérebro se ilumina como uma árvore de Natal.(Glasser, 2017)ix.
Podemos ver a conexão RPC e TPJ nas ações dos monitores(figura 3), conectados por uma só música e expressão sonoro-corporal semelhantes e sincrônicas. Segundo Glaiser (2017), o compartilhamento de algo desencadeia a liberação de oxitocina, ativando níveis mais altos de confiança, criando um círculo virtuoso e positivo entre pessoas. Nos participantes do grupo observamos esse aspecto através de outros movimentos, tais como a preocupação de cada idosa em acolher pessoas novas que entravam no grupo e possibilitar a si mesmas -e às colegas- uma abertura para expressar suas lamentações, felicidades e anseios. Há uma sintonia entre si, entre todos e com o que acontece no ambiente, criando uma conexão profunda, numa relação de semelhança de ideias e vontades, compartilhando desejos e expressando gratidão pelo acolhimento que recebido.
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Com estas diferentes narrativas, 'dando voz' aos movimentos internos e interlocuções geradas, quando nos encontramos num espaço-tempo de escuta mútua outras narrativas emergem, com diferentes vozes-cores, configurando nossos diálogos colaborativos e co-construindo textos generativos de aberturas rumo a uma comunidade de aprendizagem (Guanaes & Japur, 2008). Se determinados jeitos de conversar faz emergir determinados mundos, fica factivel que construimos Mundo(s) com as pessoas com quem conversamos na comunidade, ampliando nossa compreensão para a noção de que somos co-responsáveis pelo mundo em que vivemos. Em nossas considerações finais, compreendemos que falamos sobre sujeitos de uma comunidade, e por sermos narradores sobre esta, formamos, também, uma comunidade dialógica.
Ao escutar os colegas, eu, Rafael ainda deixo aqui meu relato -de alguém que escolheu se dedicar ao estudo do instrumento musical- que compreende o quanto é importante ter acuidade durante o estudo musical, fazendo os sons se integrem ao Ser do performance músico. Se preparar bem antes da apresentação musical – do fazer música proporciona segurança e, como consequência, uma apresentação que expressa a musicalidade do instrumentista, como algo essencial para que a música invada a alma de quem ouve proporcionando a integração entre o instrumentista e o espectador. Essa preocupação com o 'ouvinte' eu adquiri participando do projeto vida ativa, grande lição para minha vida profissional.
Eu Mariana, me lembro da época em que meu amigo Rafael dizia para a turma, em 2016: “véi, vocês precisam participar do Vida Ativa!” Mas, gente?! O que era Vida Ativa? Nós perguntávamos e ele explicava com 'brilho nos olhos'. Isso me afetou, me impulsionou a entrar neste projeto e hoje eu escrevo com os olhos brilhando: o projeto Vida Ativa é colo que consola, sorriso que envolve, coração que escuta, abraço que acolhe, olhar que compreende, música que contagia, vida que ensina, corpo que movimenta e movimento que transforma. Conexão e coesão foram palavras recorrentes em nossos discursos. Falas tão iguais mas tão únicas como as cores de nossas camisetas e os retalhos dos fuxicos do estandarte do Vida Ativa (presente na figura 2, na parede da sala). Quando Hidequel fala sobre “trabalhar o micro no macro” penso em nossa trajetória na faculdade e como fomos nos tornando um grupo -com musicoterapeutas, músicos-, cada qual com suas habilidades próprias. Concordo com Beatriz quando diz que o projeto de extensão nos ajudou a 'diluir resistências', e com Italo quando ressalta a importância do olhar ou da atitude de comunicar-se pelo olhar. Consigo visualizar o lugar seguro construído pelo espaço musicoterapêutico descrito pelo Rafael, e consigo me identificar com a Raquel quando diz que todas as experiências, pessoas e músicas fazem parte da profissional que me tornei. A experiência no projeto foi nos orientando nos estudos, nos ajudando na comunicação com as diferentes pessoas, respeitando as histórias de vida de cada um, lidando com fracassos e perdas, alegrias, tristezas, ideias e lanches. Participar do projeto de extensão me ensinou a desenvolver o elemento-base para uma atuação musicoterapêutica, como diz Bruscia (2016): a empatia. Me ensinou a estar presente para o meu cliente, a valorizar sua história de vida, a aceitar o que me oferece. Me ensinou a trabalhar em grupo e ampliar a força da ação em conjunto. Me ensinou a sentir o som e o transformar em música que comunica, interage, dá suporte e integra. Com uma canção do 'Grupo 5 a Seco' (Brandileone; Calderoni) finalizo meu aprendizado: “Por ser daqui (...) Recolho as impressões, curo desilusões e faço algum refrão das coisas que vivi. Concentro as emoções, miro nos corações e canto aquilo que eu vou ser por ser daqui”, ...por ser do Vida Ativa!
Quizera fazer novas cores-vozes emergirem – as narrativas ou feedbacks das pessoas da comunidade- para mostrar a paleta ou o mosaico de possibilidades que a extensão pode propiciar na formação acadêmica inserida numa comunidade, o que estenderia em demasiado o limite de nosso texto. Acreditamos que frente aos acontecimentos vividos na extensão, nós (agora colegas musicoterapeutas sociais/comunitários, aluno de música, profissionais de outra área e comunidade), conversamos constante e intermitentemente com diversos diálogos intra e interrelacionais entre e de todos os envolvidos. Uma verdadeira 'conversação' ou interlocução entre intersubjetividades configurando um "discurso polifônico", ou espaços-tempos com uma "ênfase polivocal do discurso".(Nascimento, 2010). Colocando outras cores/palavras em nossas narrativas abrimos possibilidades para outras ações, pois ‘o modo de descrever o mundo e nomeá-lo constroem este mundo’ e ‘não podemos fazer algo diferente se não pensamos diferente’ (como afirma J.Schotter e nas palavras de Harlene Anderson, ao conhecê-los num simpósio no México em 2014).
Inimaginável as paisagens visual, sonora e sociorelacionais (Nascimento,2010) que emergiram, emergem e podem surgir deste estar-viver construir em comunidade. Na letra da canção Comunhão da Terra (Holanda, Barroncas, Siqueira, 2003), ressoamos as sonoridades que desejamos serem presentes junto as pessoas e com elas co-criar o Mundo que desejamos ver-viver-criar :
É tempo ainda de amar sem fronteiras, do Amor ser a bandeira de união do mundo inteiro. Ainda creio que essas cores separadas serão flores perfumadas em um só canteiro. /.../ Eu canto forte esta canção que encerra a Comunhão da Terra pela soma dos quintais. Mas pergunto ao Criador que fez a gente por que assim tão diferentes para sermos iguais.
Tornemo-nos mais flexíveis, mais espontâneos, mais humanos, mais multicoloridos e multiexpressivos para sermos ‘um Ser humano ao encontro de outro Ser humano’ (escuto ao longe as palavras de C.Jung). E neste encontro, através de nossos 'textos polivocais existenciais', que possam ser geradas novas vozes, considerando que "as palavras são como mãos que tocam pessoas" (assim como diz John Shotter). Que as nossas sonoridades possam fazer emergir Trans-Formaçõesx no estar-viver-construir-comunitário, tocando seus-nossos sonhos e gerando escolhas-movimentos criativos e saudáveis.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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_______Notas de Fim:
iMusicoterapeuta Social/Comunitária. Doutora em Educação. Docente do Curso de Musicoterapia/EMAC/UFG e coordenadora do projeto de extensão Vida Ativa. sandrarocha@ufg.br /srochadonascimento@gmail.com. Musicoterapeuta.
ii O Projeto de extensão Vida Ativa, vinculado a extensão universitária desde 2013, esteve inserido nas ações do Laborinter (Laboratório Interdisciplinar de Educação em Saúde Comunitária), do Curso de Musicoterapia da Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás em Goiânia-Goiás-Brasil. Entre 2013 a 2018 foi desenvolvido numa residência rural (chácara) do bairro, sendo posteriormente levado para dentro da UBS São Pedro- Aparecida de Goiânia. Os encontros são realizados semanalmente no período vespertino, num bairro da região metropolitana de Goiânia-Goiás/Brasil. Dentre as ações básicas temos, sequenciadamente: o translado dos domicílios até a unidade de saúde (e retorno), efetivado através de transporte veicular fornecido pela Divisão de Transporte/UFG; acolhimento comunitário, realizado por qualquer pessoa do grupo e/ou por monitores/docente da equipe; ações de musicoterapia preventiva psicossocial através de diversos dispositivos técnico expressivos (Pellizzari & Rodrigués,2005; Pellizzari,2011), facilitadas pelos musicoterapeutas, integradas ou não a outras atividades propostas trazidas por monitores de outros cursos; ações de cuidado e orientações sobre saúde, pelas ACS e/ou enfermeiras da Unidade Básica de Saúde(UBS); lanche comunitário, agregando 'quitutes' trazidos pelas idosas e a UBS; atividade de alongamento; retorno aos domicílios. O Laborinter tem como objetivo inserir os acadêmicos (de diversos cursos) em cenários de prática comunitária (quer nos dispositivos de atenção a saúde e atenção psicossocial à saúde mental quanto em unidades educativas locais), bem como construir parcerias com os sujeitos da comunidade e profissionais dos contextos da saúde da família e educação, favorecendo ações de promoção da saúde integral aos participantes locais. Já participaram do projeto acadêmicos dos cursos de Musicoterapia, Odontologia, Biomedicina, Educação ambiental, Teatro, Artes Visuais, Ciências Sociais, Nutrição, Música, Pedagogia, proporcionando o desenvolvimento da interdisciplinaridade e interprofissionalidade.
iii Inspiramos no livro Educação Popular na formação Universitária (2013), de Eymar Mourão Vasconcelos (2011), que apresenta os diversos depoimentos dos acadêmicos que participaram de suas ações extensionistas. Esta forma de apresentação alinhou-se com a perspectiva das práticas dialógicas e colaborativas do Construcionismo Social que primam por dar voz aos sujeitos implicados nas ações.
iv Consideramos que nossas análises dos dados da extensão são semelhantes às das pesquisas. Como aporte teórico utilizamos a Fenomenologia Existencial Merleau-Pontyana, sob três dimensões discursivas fenomenológicas (Rezende, 1990 apud Nascimento, 2010): a análise descritiva (falamos dos dados como se apresentam, sem inferências ou interpretações categorizadas); a análise compreensiva e interpretativa (destacamos "elementos ou fatores" para um aprofundamento, apresentando outros diálogos ou textos conceituais).
v Os dados foram obtidos no banco de dados do LABORINTER/EMAC/UFG, sobre as atividades do projeto de extensão universitária Vida Ativa. Todos os indivíduos apresentados nas fotos assinaram termo de autorização ao uso de imagem. As fotos foram escolhidas por consenso, dentro de uma seleção aleatória inicial apresentada aos autores.
vi “/.../ music, as part and parcel of human behavior, exists precisely for the purpose of emotional expression, and to assist in the adaptation process of human beings to their surroundings. In short, our brains conceived music because we need it to redirect tensions, to organize behavior and to express emotion.” (Berger, 2003, p.130).
vii A intersubjetividade aqui é compreendida a partir da visão de Merleay-Ponty, sobre a qual Copalbo (2008, apud Nascimento, 2010 p. 282) pontua que o autor descreve-a como uma “pluralidade dos sujeitos”. Nascimento (2010) amplia, afirmando que: "/.../ não são apenas os fatos subjetivos que influenciam em cada sujeito em suas interações, mas os fatos sociais manifestos nos objetos construídos ou não, nas ações realizadas ou não, carregados de representações e aspectos ideológicos, tangenciados pelas histórias de vida de cada sujeito /.../." (Nascimento, 2010, p.282-283).
viii Este encontro, realizado na data de 21/11/2019, tinha como objetivo realizar lembranças de momentos vividos em anos anteriores e efetivar um momento de fechamento dos vínculos das participantes da comunidade com os monitores, visto que logo estariam finalizando sua formação universitária.
ix Disponível em <https:// http://pt.psy.co/psicologia-da-conexo-profunda.html/>, Acesso em: 16 maio. 2020.
x Nascimento (2010) refere ao termos Trans-Formação como uma formação que transforma, uma mudança para "além de" , transpondo modos de pensar, sentir e agir usuais para novas percepções e ações.
Referência para citação deste artigo:
NASCIMENTO, S.R. et all. SONORIDADES QUE CONSTROEM DIÁLOGOS COLABORATIVOS E TRANS-FORMAÇÕES NO ESTAR-VIVER-CONSTRUIR COMUNITÁRIO: A MUSICOTERAPIA SOCIAL NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA. In: ENCONTROS EM MUSICOTERAPIA: Temas em ensino, pesquisa e extensão/ Fernanda Valentin, Claudia Regina de O. Zanini, Eliamar A. Fleury Ferreira, Mayara Kelly Alves Ribeiro, Tereza Raquel de Melo Alcântara-Silva, Sandra Rocha do Nascimento (organizadoras)- Curitiba: CRV, 2021. (p. 63- 81)
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