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APLICABILIDADE
DA MUSICOTERAPIA NA EDUCAÇÃO:
DESAFIOS
E POSSIBILIDADES
Dtda. Sandra Rocha do Nascimento[1]
Carolina Gabriel Gomes[2]
Elisama Barbosa Brasil[3]
RESUMO
Este trabalho apresenta algumas
indagações acerca da aplicabilidade da Musicoterapia na educação, em específico
dentro do contexto escolar, evidenciando os desafios a serem superados na
configuração da atuação musicoterapêutica neste espaço e as diversas demandas
percebidas junto os diversos atores da comunidade escolar. Nossas ponderações evidenciam
sobre a necessidade de compreendermos, enquanto profissionais atuantes dentro
de uma perspectiva interdisciplinar, as interinfluências presentes no ambiente
educacional e nas interações de todos os atores envolvidos, levando-nos às
adequações metodológicas que visem à melhor forma de intervenção neste
contexto.
Palavras-Chave:
Musicoterapia; Educação; Pesquisas colaborativas; Aplicabilidade da
Musicoterapia.
A aplicabilidade da
Musicoterapia no campo da Educação ainda é um campo de atuação a ser
desbravado, explorado. Poucos estudos existem na área da Musicoterapia
investigando sobre sua aplicabilidade com indivíduos normativos ( crianças sem
deficiências mental, sensorial ou física e /ou quadros psiquiátricos) dentro do
espaço escolar. A escassez de literatura sobre o tema é uma realidade, onde a maioria
das pesquisas musicoterápicas, ligadas à educação, encontram-se no campo do
ensino especial, com investigações efetivadas dentro de instituições
especializadas ou em contexto clínico.
Diante dessa realidade, motivamo-nos a
estruturação e efetivação de pesquisas ligadas à temática,
tais como os trabalhos de SANTOS (1997)[4],
NASCIMENTO[5]
(2006); PORTO (2006)[6];
NASCIMENTO (2008)[7]; GOMES[8],
(2008); BRASIL (2008)[9]. As
investigações realizadas pelo Grupo de Estudo em Musicoterapia na Educação
(NEPAM/EMAC/UFG), coordenado pela Profª Ms Sandra Rocha do Nascimento, desde
2006, vem avançando na busca da efetivação de pesquisas colaborativas,
configurando trocas de informações entre as pesquisas que desenvolvam práticas
musicoterapêuticas dentro do espaço escolar com indivíduos normativos. Outro
fator que se configurou como motivador à proposição das pesquisas, foi a
quantidade de casos expostos pela mídia acerca da violência nas escolas, bem como da excessiva
presença de dificuldades de aprendizagem dos alunos e de quadros de adoecimento
nos professores.
A área da Educação está
sendo vista como uma possibilidade de avanço das práticas musicoterápicas,
favorecendo a construção de conhecimento em diversas atuações neste campo. Como
condição sine qua non, os
pesquisadores perceberam a necessidade de transformação da prática clínica, levando
em conta as modificação do contexto educacional (FRANCO, 2005), inscrevendo e
reinscrevendo as atuações de acordo com os fatos suscitados no ambiente ou nos
sujeitos envolvidos.
Percebemos
que algumas dificuldades manifestadas pelos profissionais e pais de educandos,
quanto ao entendimento sobre a real aplicabilidade da Musicoterapia e sua
efetividade dentro do contexto educacional, assim como sua diferenciação da
prática musical promovida por outras áreas do conhecimento, pode estar
associada à existência de poucos estudos ligados ao tema, bem como a associação
do uso da música em datas comemorativas, ou para relaxar, ou para ensinar algo.
Dentre os fatores que
interferem no avanço da aplicabilidade da musicoterapia no contexto escolar,
acredita-se que esteja a falta de compreensão das diferenças entre o uso da
música com fins pedagógicos, priorizados pela Educação Musical, e sua
utilização com fins terapêuticos, objetivo da Musicoterapia. Tais diferenças
nem sempre são bem percebidas pelos profissionais da educação, levando a
enganos e comparações equivocadas entre o “fazer musical” auto-expressivo de
uma vivência musicoterápica e os aspectos artísticos-educativos e recreacionais
em educação musical.
A compreensão da música
como proporcionadora da re-significação de conflitos sociais e emocionais, bem
como estimuladora de aspectos cognitivos, objetivos priorizados na prática
musicoterapêutica na educação, ainda não é clara para muitas pessoas. A Musicoterapia propõe
ações terapêuticas com base no tripé: corpo-som-música, compreendendo as
expressões corporais, sonoras e musicais como formas de comunicação não-verbal,
sendo aceitas e trabalhadas em toda a sua expressividade.
Segundo Bruscia (2000),
a musicoterapia é incrivelmente diversa. Ela é
atualmente utilizada em muitos e diferentes setings
clínicos, para tratar uma grande variedade de problemas de saúde, de um sem
número de tipos de clientela. Seus objetivos e métodos variam de um setting e cliente a outro, e de um
musicoterapeuta a outro, dependendo da orientação teórica do terapeuta e de sua
formação. (p. 165)
Segundo Bruscia (2000,
p. 104), o diferencial da Musicoterapia com relação a outras disciplinas está
em trazer “uma perspectiva de dar uma significação à música”. Tudo o que o
cliente produz musicalmente tem um significado, pois reflete suas dificuldades
e superações, ou seja, quem ele é em sua essência.
Dentro do contexto escolar, a musicoterapia pode
ser pensada, em sua aplicabilidade, sob diversos ângulos e perspectivas. Para
Bruscia (2000), a Musicoterapia utilizada em salas de aula é considerada como
uma “prática didática[10]”,
que, segundo o autor, possui como “foco ajudar os clientes a adquirirem os
conhecimentos, comportamentos e habilidades necessários para uma vida funcional
e independente e para a adaptação social. Em todas essas práticas, alguma forma
de aprendizagem está no primeiro plano do processo terapêutico” (ibid, p.167). Para
se referir às experiências musicais em Musicoterapia com objetivo de natureza
educacional, Bruscia coloca que o
(...) cliente é engajado em
experiências musicais que apresentam o desafio da aprendizagem e oferecem
opções para seu progresso. Isto é, o cliente experimenta ‘o que’ deve ser
aprendido através da música, ao mesmo tempo em que vivencia o processo do
aprendizado propriamente dito, novamente com a música (p. 113).
Pensamos que o contexto
musicoterapêutico dentro da escola pode proporcionar diferente do contexto
escolar regular, configurando um ambiente sem julgamentos de produções quanto a
erros e acertos, valores estéticos rígidos e pré-comcebidos, enxergando os
indivíduos por outros ângulos, que não só as dificuldades relacionais e/ou
educativas. Neste sentido, a Musicoterapia pode proporcionar ao cliente diversos
benefícios, como o resgate da auto-estima, a ampliação da percepção e da
comunicação, o desenvolvimento da criatividade, da “ação cognitiva ativa e
significativa e da interação ativa e produtiva” do mesmo, como afirma Santos
(1997, p. 21).
Palladino (1994) sustenta
que a Musicoterapia, no campo educacional, permite a vivência de diferentes
sensações, as quais favorecem o crescimento criativo e expressivo do cliente,
orientando o processo de aprendizagem de modo que haja uma abertura criativa.
Além disso, promove o estabelecimento de um espaço interno que mobilize a
expressão, o reconhecimento próprio e sua possibilidade de movimento e
integração.
Vivência
musicoterapêutica com um grupo de
educandos em uma escola pública.
A Musicoterapia
inserida neste contexto - o educacional - como opção terapêutica, poderia
conferir apoio, atenção e estimulação cognitiva/sócio-afetiva às crianças a fim
de estimular-lhes o desenvolvimento como um todo. Proporcionar diversos estudos
sobre a utilização da Musicoterapia, com indivíduos ‘normais’, “configura a
possibilidade de ampliar as investigações sobre a eficácia da música nos
processos cognitivos” (NASCIMENTO, 2008, p.6).
Conforme relata Queiroz
(2003, p. 34) “o modo global e integrador da música nos envolver talvez seja reflexo
de sua decodificação multiprocessada pelo cérebro”. Assim sendo,
a partir do modo como o cérebro
organiza-se para processar a música, a musicalidade parece ser uma função
integradora, uma função que coordena outras funções ou que as enriquece e, ainda,
uma função capaz de colocar o meio cerebral em movimento, em fluxo, pois para
processar música formam-se diversas cadeias neurais e ativam-se diferentes
centros trabalhando em conjunto (op.cit.,
p. 33).
Baeck (2001 apud
QUEIROZ, 2003, p. 28) afirma que “no cérebro não existe nenhum centro para a
música”, sendo processada em diferentes regiões do cérebro. Por esse motivo, o
processamento da música poderia ser chamado de “integrador e global” (ibidem,
p. 28).
Outras práticas podem ser pensadas quando elegemos
outros sujeitos à participação, tais como a prática ecológica[11]
no trabalho com os professores (GOMES, 2008), endo como
foco primário a promoção da saúde em
e entre os vários atores da
comunidade escolar. Propor a Musicoterapia Ecológica deve-se ao fato de
acreditar que, havendo mudanças no contexto individual, elas levarão a uma
mudança no contexto ecológico. Ajudar um indivíduo a se tornar mais saudável
não é visto como um fato desvinculado de melhorar a saúde dos contextos em que
o indivíduo esta inserido. Ajudar as pessoas a se relacionarem harmoniosamente,
faz com que fiquem mais saudáveis, integrando-se com o ambiente circundante. O
objetivo no trabalho com grupos nesta abordagem é produzir mudanças
terapêuticas no sistema ecológico e nos indivíduos que fazem parte dele (GOMES,
2008,p.37). Nessa perspectiva, possibilitar aos docentes momentos de
auto-percepção, auto-expressão, consciência de seus conflitos intrapsíquicos e
inter-relacionais, possibilitará que as dificuldades vivenciadas no cotidiano
escolar sejam re-significadas, minimizando suas reações de estresse,
abstenceísmo, estados psicossomáticos.
Vivência musicoterapêutica com um
grupo de
professores, em reuniões pedagógicas.
Ainda há muito que
percorrer sobre a Musicoterapia no campo da Educação. Cremos que a atuação
musicoterapêutica, representada na figura e no papel do musicoterapeuta, pode
levar aos ambientes educacionais regulares uma prática diferenciada da música,
potencializando os efeitos desta através das especialidades terapêuticas e
científicas que possui quanto ao fazer musical e ao que dele decorre, ampliando
a qualidade da Educação. Percebemos, também, que para proporcionar a
aplicabilidade da Musicoterapia na Educação, dentro do contexto escolar, faz-se
necessário compreender a dinâmica deste contexto e de todos os atores
envolvidos, adequando a melhor metodologia que possibilite viabilizar momentos
que proporcionem a efetivação das vivências ou sessões musicoterápicas.
REFERÊNCIAS:
BRASIL, 2008. A
musicoterapia nas dificuldades de aprendizagem: uma mediação entre o cantar, o ler e o
escrever. Goiânia, 2008.
BRUSCIA, Kenneth E.- Definindo Musicoterapia (tradç.
Mariza Velloso Fernandez Conde),
2ª ed., Rio de Janeiro: Enelivros, 2000.
GOMES, Carolina Gabriel. A Musicoterapia
acolhendo as diferenças na inclusão: (re) estabelecendo relações positivas
entre o professor e o aluno com necessidades educacionais especiais. 2008.
Monografia (Curso de Musicoterapia) - Escola de Música e Artes Cênicas,
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2008.
NASCIMENTO, Sandra Rocha do. A “escuta
diferenciada” dos problemas de aprendizagem mediada pela musicoterapia na
educação. In: SIMCAM4 – IV SIMPÓSIO DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS, 4., 2008, São
Paulo. Anais eletrônicos... São
Paulo: Paulistana, 2008. Disponível em: < http://www.fflch.usp.br/dl/simcam4/downloads_anais/SIMCAM4_Sandra_Rocha.pdf
>. Acesso em: 15/10/2008.
________________. A intervenção psicopedagógica através da música: uma “escuta
diferenciada” das dificuldades de aprendizagem mediadas pela musicoterapia. 2006. (Projeto de Pesquisa de
Dissertação Doutoramento em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação –
PPGE, Universidade Federal de Goiás, 2006.
PALADINO, Paola k. Musicoterapia y
Educacion. Trabalho apresentado no Encontro Latino Americano de Musicoterapia.
Rio de Janeiro, 1994.
PORTO, Ludmilla de Souza. Musicoterapia com crianças de 06 a 07 anos em escola de
ensino regular numa abordagem sócio-interacionista. 2006. 125 f. Monografia (Graduação
em Musicoterapia) – Escola de Música e Artes Cênicas, Universidade Federal de
Goiás, Goiânia, 2006.
QUEIROZ, Gregório J. Pereira de; Aspectos da musicalidade e da música de Paul
Nordoff e suas implicações na clínica musicoterapêutica. São Paulo:
Apontamento Editora, 2003.
[1]
Musicoterapeuta, Coordenadora e Supervisora-clínica de estágio do Curso de
Musicoterapia da Escola de Música e Artes Cênicas/UFG. Doutoranda em Educação
pelo Programa de Pós-Graduaçao em Educação/ FE/UFG (srochakanda@hotmail.com;
celular: 62- 9603 2774).
[2] Musicoterapeuta, Tesoureira da
Sociedade Goiana de Musicoterapia (SGMT). Mestranda em Música/ EMAC/UFG.
[3] Musicoterapeuta (elisbrasil26@yahoo.com.br)
[4] A contribuição da Musicoterapia
no trabalho com crianças com problemas de aprendizagem (UCS).
[5] A
escuta diferenciada das dificuldades de aprendizagem mediada pela
Musicoterapia: o diagnóstico musicoterápico e a intervenção psicopedagógica
através da música (FE/UFG).
[6] Musicoterapia com crianças de 06 a 07 anos em escola de
ensino regular numa abordagem sócio-interacionista (EMAC/UFG).
[7] Formação de professores:
integração entre memórias, teorias e prática (FE/UFG).
[8] A Musicoterapia acolhendo as
diferenças na inclusão: (re) estabelecendo relações positivas entre o professor
e o aluno com necessidades educacionais especiais (EMAC/UFG).
[9]
A.............
[10] Segundo
Bruscia, “as práticas didáticas são aquelas cujo foco é ajudar os clientes a
adquirirem os conhecimentos, comportamentos e habilidades necessários para uma
vida funcional e independente e para a adaptação social. Em todas essas
práticas, alguma forma de aprendizagem está no primeiro plano do processo
terapêutico. Isto inclui todas as aplicações da musicoterapia (...) em que os
principais objetivos são (...) educacionais. As práticas dessas áreas variam de
acordo com a área de aprendizado enfatizada (por exemplo, musical ou
não-musical), com o valor terapêutico do aprendizado, com a extensão com que os
objetivos e métodos possam ser individualizados para atingir as necessidades e
problemas específicos do cliente e com a natureza da relação cliente-terapeuta”
(BRUSCIA, 2000, p. 167).
[11] Inclui todos os
trabalhos que focalizam a família, locais de trabalho, comunidade, sociedade,
cultura ou ambiente físico, seja porque a saúde da unidade ecológica está em
risco e precisando de intervenção ou porque a unidade causa ou contribui de
algum modo para os problemas de saúde de seus membros (BRUSCIA, 2000).
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MUSICOTERAPIA E
FORMAÇÃO DOCENTE:
MUDANDO OS DISCURSOS NA EDUCAÇÃO
Sandra
Rocha do Nascimento[1]
Leomara
Craveiro de Sá[2]
RESUMO
Este
trabalho apresenta o relato de uma experiência inovadora na formação continuada
de professores, onde estruturamos a vivência denominada Memória Pedagógica Musical (NASCIMENTO e CRAVEIRO DE SÁ, 2008),
numa proposta interdisciplinar entre as narrativas pedagógicas, da área da
Educação, e a identidade sonoro-musical, da área da Musicoterapia. Os dados expostos evidenciam o alcance da
vivência na prática docente, permitindo aos mesmos um despertar à consciência
grupal, onde cada um se percebeu como co-responsável pela construção dos
padrões e práticas educativas, compreendendo as inter-influências existentes
entre suas ações cotidianas e a realidade social (SACRISTÁN, 1995).
Palavras-Chave: Musicoterapia na Educação; Formação
docente; Memória Pedagógica Musical.
INTRODUÇÃO
Inicialmente, é
importante relatar que algumas questões foram propulsoras de uma inquietação
que nos fizeram propor novas formas de reflexão aos docentes. Dentre as mais
inquietantes destacamos as seguintes: por que, apesar de tantas oportunidades
de qualificação (e/ou capacitação e/ou formação continuada), ainda encontramos
dificuldades na prática pedagógica, ocasionando queixas, às vezes infindáveis
nos momentos de planejamento pedagógico, principalmente sobre a dinâmica
ocorrida em sala de aula? Por que nossos conhecimentos acadêmicos ‘parecem
deficitários’ para o enfrentamento do cotidiano escolar ? Esses conhecimentos
teóricos seriam modificados pelas nossas
representações mentais (o que pensamos acerca das coisas)? Ou se modificariam
por causa dos nossos comportamentos aprendidos em vivências anteriores?
Considerar as situações vivenciadas como integrantes da nossa ‘formação
profissional’ poderia ajudar na constituição de uma prática mais coesa e
“segura”?
Com base nessas
questões, propusemos uma experiência inovadora na formação continuada de
professores, estruturando a vivência denominada Memória Pedagógica Musical que será explicitada no decorrer deste
trabalho.
Sacristán
(1995) enfatiza que a prática do professor é formatada a partir de diversos
fatores, tanto internos (com base na sua constituição histórica, enquanto
indivíduo) como externos (indo desde como age no campo social até aos
multifatores que configuram sua função social). Dessa forma, a prática educativa
de cada professor , os “esquemas
práticos” (as diversas ações realizadas na prática) constituem-se a partir de
outras práticas que educam (como exemplo, a prática de educar crianças/filhos)
ou até mesmo de práticas ligadas ao campo (como as políticas educacionais, as
apropriações dos aspectos educativos por outros atores sociais, bem como das
condições de trabalho do professor). Muitas vezes, essas diversas “práticas
concorrentes” ocasionam em confusões na determinação ou definição das funções
do professor que, na atualidade, é cobrado ao exercício de outras funções
dentro do contexto escolar.
Para
o autor, ainda existe um discurso dominante sobre a responsabilização da
qualidade (ou não) da educação na figura e/ou prática do docente. Sacristán (1995) defende que precisamos
perceber o princípio de “irresponsabilidade relativa dos docentes”, ou seja,
compreendermos a existência de muitos outros elementos que dificultam e/ou
impedem a exercício da profissão.
Seguindo
o pensamento do autor, percebemos que a prática do professor não é ingênua, ou
seja, destituída de influências externas como as normas e regulações institucionais,
o que torna o discurso sobre a “responsabilidade do professor” um equívoco,
pois este é impactado por aspectos que vão além de suas ações no cotidiano
escolar. Na mesma medida de ‘inter-influências’, consideramos que a prática
educativa está enviesada por toda uma
circunstancialidade de fatores, ou multifatores advindos de suas experiências
pessoais passadas, bem como de suas representações mentais.
É fundamental o
professor se perguntar sobre as bases, o ‘alicerce’, os aspectos intra-subjetivos
e inter-relacionais presentes que tanto influenciam sua prática e compreensão
sobre o mundo. No enfrentamento do
cotidiano escolar, observa-se uma influência muito grande desses aspectos.
Faz-se importante compreender quais “esquemas práticos” enquanto ações
reiteradas, constituídas a partir de outras ações anteriormente vivenciadas,
como afirma Sacristán (1999), realizam
uma ‘interlocução’ com a teoria e a prática pedagógica.
Mediante tais
premissas, propusemos, como possibilidade de modificação da prática docente, algumas
experiências musicoterápicas vivenciadas no FIB/2008[3].
Ao iniciar o mini-curso, os professores traziam, em suas expectativas, falas
que enfatizavam a busca por técnicas para aplicar e/ou replicar no contexto da
escola, ou seja, “aprender algo para
fazer na escola”. Percebo que essa expectativa, gerada a partir de uma questão
presente na maioria dos cursos de formação, foi ouvida também neste evento:
“Como eu levaria isso para a minha
escola ?” Pareceu-nos que os professores
estão sempre em busca de estratégias, técnicas, modelos, ‘tarefas’ para
re-utilizarem nas salas de aula, caracterizando uma dependência por referências
externas ao direcionamento de sua prática pedagógica.
Diversas atividades vivenciais,
dentro da abordagem musicoterápica, foram proporcionadas aos professores, sendo
estruturadas a partir da técnica de Educação de Laboratório. A “Educação
de Laboratório de Argirys (ARGIRYS apud MOSCOVICI, 1985) “visa, através de trabalhos e tarefas a serem
desenvolvidas individualmente e/ou em grupo, trabalhar com situações bem
próximas à realidade do mercado profissional, objetivando um maior equilíbrio
emocional a partir da vivência de situações que podem vir a ocorrer no mercado
de trabalho ao qual será integrado” (MARCHETI, FERRONI e OLIVEIRA, 2001).
Enquanto
técnica, ela é utilizada por algumas empresas e organizações para a contratação
de seus funcionários. Para Moscovici,
esta técnica
possui como pressuposto de que é preciso
viver e fazer.(...) A educação de laboratório é um termo genérico, aplicado a
um conjunto de metodologia que visa mudanças pessoais a partir de aprendizagens
baseadas em experiências diretas ou em vivenciais, muitas vezes chamadas de
“dinâmicas de grupo. (...) A educação de laboratório tem como premissa de que
vivenciando situações é possível um conhecer melhor de limites, preferências e
características pessoais, possibilitando ao profissional atuar de forma
diferenciada. A estratégia ao ser trabalhada conjuntamente com outras, além do
aprimoramento técnico possibilita o desenvolvimento pessoal (MOSCOVICI, apud MARCHETI
et. al., 2001)
As vivências
musicoterápicas, através da Educação de Laboratório (ARGIRYS apud MOSCOVICI,
1985), iniciavam com as experiências musicais-musicoterápicas seguidas de
reflexões que abordavam diversas temáticas, possibilitando, aos professores,
conhecimentos e motivação que os levassem em busca de novos aportes teóricos ao
entendimento da prática educativa.
O referencial de base
da Educação foi sobre um estudo-investigação proposto por Cunha (1998), no qual
apresenta as narrativas pessoais (e/ou memórias pedagógicas e/ou história de
vida) como metodologia tanto para o ensino quanto para a pesquisa. Segundo a
autora (1998),
o professor constrói sua
performance a partir de inúmeros referenciais. Entre elas estão sua história
familiar, sua trajetória escolar e acadêmica, sua convivência com o ambiente de
trabalho, sua inserção cultural no tempo e no espaço. Provocar que ele organize
narrativas destas referências é faze-lo viver um processo profundamente
pedagógico, onde sua condição existencial é o ponto de partida para a
construção de seu desempenho na vida e na profissão. Através da narrativa ele
vai descobrindo os significados que tem atribuído aos fatos que viveu e, assim,
vai reconstruindo a compreensão que tem de si mesmo (p.41).
Cunha
(1998) enfatiza o entendimento da narrativa como uma relação dialética entre
discurso e experiência, ou seja, “assim
como a experiência produz o discurso, este também produz a experiência”(p.40),
proporcionando o exercício da disponibilidade do sujeito (no estudo, os
professores) ao relato e análise crítica sobre si mesmo. A autora ressalta,
ainda, que “é preciso que o sujeito esteja disposto a analisar criticamente a
si próprio, a separar olhares enviezadamente afetivos presentes na caminhada, a
pôr em dúvida crenças e preconceitos, enfim, a des-construir seu processo
histórico para melhor poder compreende-lo” (p.40).
Este fator, da
disponibilidade dos professores, foi enfatizado e tornado consciente aos
docentes do estudo piloto realizado no FIB/2008 como condição para participarem
das atividades. Foi explicado que somente através do compromisso de
envolvimento, primeiramente consigo mesmo e depois com o grupo, é que se torna
possível realizar qualquer experiência transformadora.
Fundamentando nesse
aporte teórico, é possível considerar que entre os aspectos ou referências que
constituem as histórias de vida, temos a música ou as experiências musicais
vivenciadas pelos indivíduos durante toda a sua trajetória pessoal.
Buscamos na Musicoterapia os
elementos teóricos sobre a Identidade Sonoro-musical proposto pelo Dr. Rolando
O. Benenzon, musicoterapeuta argentino. Segundo Benenzon (1985), a Identidade
Sonora - ISO – é um
elemento fundamental tanto
teórico como prático para a Musicoterapia”, visto que reporta-se à existência
de um som ou conjunto de sons que caracterizará a individualidade de cada
pessoa. Ou seja, “é um fenômeno de som e movimento interno que resume nossos
arquétipos sonoros, nossas vivências sonoras gestacionais intra-uterinas e
nossas vivências sonoras de nascimento e infantis até nossas dias...é um som
estruturado dentro de um mosaico sonoro, que por sua vez se estrutura com o tempo e que, fundamentalmente, encontra-se
em perpétuo movimento (p.43).
Benenzon
(1988) apresenta a
classificação de 5 (cinco)
tipos ou “estruturas dinâmicas” de ISOS ou Identidades Sonoras[4].
Interessa-nos neste artigo, destacar sobre o ISO Gestático e o ISO
Complementário, não desconsiderando a importância dos demais, mas por estarem mais próximos da temática que
abordamos. A identificação dos ISOS se faz importante para compreender quais
músicas e/ou experiências sonoras encontram-se vinculadas aos fatos vivenciados
durante a história de vida da pessoa. Sendo assim, a música se configurará como
elemento que retrata as representações dos indivíduos sobre os acontecimentos
vivenciados, uma tela projetiva dos mesmos.
Estruturamos
a vivência denominada Memória Pedagógica
Musical [5],
numa proposta interdisciplinar entre as narrativas pedagógicas (CUNHA, 1998),
da Educação, e a identidade sonoro-musical (BENENZON, 1985; 1988), da
Musicoterapia.
Expor toda a riquesa
expressa durante a vivência não seria possível neste artigo, visto ser limitado
em sua extensão. Porém, é possivel enfatizar os resultados percebidos nos discursos
dos próprios professores. No momento do processamento/feedback, ‘escutamos’ : “Esse momento foi um festival de emoções: me
senti feliz por poder falar da minha vida e ser ouvida com atenção (voz e vez);
me senti triste ao lembrar da adolescência sofrida que tive; senti muita
saudade da infância; amei ouvir as histórias dos colegas”; “Foi muito bom refletir sobre a minha vida e
a música que marcou cada período. Isso me faz compreender o porque que faço
música e o porque das minhas escolhas musicais hoje”.
Percebemos a ocorrência
de um despertar à consciência grupal, onde cada um percebeu-se como
co-responsável pela construção dos padrões e práticas educativas, compreendendo
as inter-influências existentes entre suas ações cotidianas e a realidade
social (SACRISTÁN, 1995).
A interdisciplinaridade
entre áreas pode trazer grandes benefícios por ocasião dos cursos de
capacitação ou educação continuada. É
possível perceber que a narrativa pedagógica e a história sonoro-musical,
juntas, podem propiciar, aos professores em formação, a tomada de consciência
sobre suas práticas. Escrever, falar, cantar sobre os fatos vividos são, na
realidade, múltiplas formas expressivas que dizem do sujeito e de sua percepção
sobre o mundo em que vive e (re)constrói a cada momento de sua vida.
REFERÊNCIAS
BENENZON,
O. Manual de Musicoterapia.(trad.
Clementina Nastari), Rio de Janeiro:
Enelivros, 1985.
_______________.Teoria da Musicoterapia. (trad. Ana
Sheila M. de Uricoechea), São Paulo: Summus, 1988.
CUNHA,
Maria Isabel da. O Professor
Universitário na transição de paradigmas, 1ª ed., Araraquara: JM Editora,
1998.
MARCHETI, Ana
P.C, FERRONI, Márcia S.N.,
OLIVEIRA, Nelma S. S., Educação de laboratório - uma estratégia de
ensino e aprendizagem alternativa para o desenvolvimento técnico e interpessoal, s/local, 2001.
MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento
interpessoal. 3ª ed., Rio de Janeiro: LTC- Livros Técnicos e
Científicos Editora S.A., 1985.
SACRISTÁN, J. Gimeno.- Consciência e ação sobre a prática como
libertação profissional dos professores. In: NÓVOA, António (org.). Profissão Professor. Porto: Porto
Editora, 1995.
[1]
Musicoterapeuta,
Coordenadora e Supervisora-clínica de estágio do Curso de Musicoterapia da
Escola de Música e Artes Cênicas/UFG. Doutoranda em Educação pelo Programa de
Pós-Graduaçao em Educação/ FE/UFG E-mail: srochakanda@hotmail.com
[2] Doutora em
Comunicação e Semiótica/PUC-SP; Professora-pesquisadora vinculada ao Programa
de Pós-Graduação em Música; Conselheira no Conselho Estadual de Educação do
Estado de Goiás; Musicoterapeuta Clínica.
E-mail: leomara.craveiro@gmail.com
[3] O mini-curso foi oferecido
durante o Festival Internacional de Inverno de Brasília (FIB/UnB) nos anos de
2007 e 2008. O primeiro mini-curso, “Re-significando
o ato pedagógico através da
musicoterapia”, foi realizado
em 2007, com professores da rede
pública do GDF; em 2008, foram oferecidos dois mini-cursos intitulados “Re-significando o ato escolar” e “Violência
no espaço escolar: construindo alianças”. Todos os mini-cursos foram
estruturados e desenvolvidos pelas autoras, musicoterapeutas Profª Drª Leomara
Craveiro de Sá e Profª Ms Sandra Rocha do Nascimento, ambas professoras
vinculadas à Escola de Música e Artes Cênicas da UFG, contando com a
participação das musicoterapeutas colaboradores: Fernanda Valentin (mestranda –
EMAC/UFG) e Andressa Toledo (musicoterapeuta do Hospital Psiquiátrico Eurípedes
Barsanulfo – Goiânia/GO).
[4] Identidades Sonoras ou ISO: ISO Gestáltico (como dinâmica sonora
estruturada desde à época gestacional, sendo “próprio e único desse indivíduo e
não de outro” (p.40), ou seja, se constitui por aqueles sons e/ou músicas que
se caracterizam específicos de cada indivíduo, a partir de suas experiências de
vida), ISO Cultural (como “produto
da configuração cultural global da qual o indivíduo e o seu grupo fazem parte”
(p.34), isto é, os elementos sonoros pertencentes ao grupo em que o indivíduo
encontra-se inserido), ISO Universal
( como “estrutura dinâmica sonora, que caracteriza ou identifica todos os seres
humanos, independentemente dos seus contextos sociais, culturais, históricos e
psicofisiológicos” (p.35), isto é, aqueles sons que fazem parte da memória ou
mosaico sonoro de todos os seres humanos, tais como exemplo o som do batimento
cardíaco), ISO Complementário ou
complementar (para designar a “estrutura dinâmica temporal (...) devido às
pequenas mudanças que se produzem a cada dia, por efeito das circunstâncias
ambientais específicas ou psicológicas do indivíduo” (p.36), isto é, aqueles
sons que aparecem em determinados momentos da história de vida do indivíduo) e ISO Grupal (como “identidade sonora de
um grupo humano, produto das afinidades musicais latentes, desenvolvida em cada
um dos seus membros” (p.36).
[5] Esta atividade foi
estruturada, para o primeiro momento/ vivencial, da seguinte forma: iniciando
com um aquecimento, tendo como objetivo rememorar os acontecimentos vivenciados
que os levaram àquele momento presente, que
os impulsionaram a participarem do curso. Logo após esta etapa de mobilização, foi dada a consigna para pegar uma folha de
papel (disposta no centro da sala) e giz cera, escolhendo um lugar para se
sentar. Solicitou-se que os professores desenhassem uma linha horizontal e
marcassem sobre ela os fatos e acontecimentos significativos da trajetória de
vida enquanto aluno e enquanto educador, procurando, na memória, uma música que
tivesse relação com cada um dos acontecimentos vividos, escrevendo o nome dela
ou um trecho da letra que viesse à memória. Após
essa construção – desenhos e nomes ou letras de músicas - , todos posicionados
em círculo, foi solicitado aos professores
que cada um olhasse para o seu próprio “papel”, em silêncio, procurando
fazer contato com o que ali estava registrado e o que tudo aquilo representava
para ele. A seguir, foi solicitado a cada um que apresentasse a sua produção ao
grupo, socializando a sua “memória pedagógica musical”, falando a respeito dos
acontecimentos, dos sentimentos vivenciados e de suas músicas significativas,
podendo cantá-las sozinho ou com a ajuda do grupo.
____________________________________________________________________________
MUSICOTERAPIA: RESSIGNIFICANDO O ATO PEDAGÓGICO
Sandra Rocha do Nascimento[1]
Leomara Craveiro de Sá[2]
RESUMO
Este
estudo, vinculado a uma pesquisa em desenvolvimento no Programa de
Pós-Graduação (Doutorado) em Educação, trata de questões relacionadas à
Educação Inclusiva e de como a Musicoterapia pode ser inserida nesse contexto,
focalizando, principalmente, a capacitação do professor. Os seguintes aspectos
são ressaltados: o auto-conhecimento do professor; o desenvolvimento de uma
escuta diferenciada; a ressignificação das práticas docentes; e a mudança do
olhar na inclusão. De caráter qualitativo, a pesquisa encontra-se na etapa de
coleta de dados.
Palavras-Chave: Musicoterapia na Educação;
Formação Docente; Auto-conhecimento; Inclusão.
INTRODUÇÃO
Atualmente, há um
aumento dos casos de adoecimento do professor, os quais apresentam quadros
psicopatológicos, estresse, depressão, absenteísmo, entre outros. Muitas
indagações surgem quando a temática refere-se à inclusão e sua concretização —
em específico, ao processo inclusivo de pessoas com deficiências,
particularmente crianças e jovens, dentro do contexto escolar. Por que, num
mundo tão marcado pelo excesso de informação e facilidades de qualificação
profissional, ainda encontramos tantas dificuldades para efetivar e otimizar o
processo de inclusão escolar? Por que vários educadores apresentam dificuldades
junto aos seus alunos com necessidades especiais, muitas vezes dificultando ou
mesmo inviabilizando o processo de inclusão? Por que ainda ouvimos dos próprios
educadores que a maioria deles não está preparada para atuar no processo de
inclusão?
Ao avançarmos em nossas
indagações, propomos novas questões: qual a “falta de preparo” a que os
educadores se referem? Quem incluir? Somente os alunos com deficiências? E
quanto aos alunos normativos? Suas
particularidades e representações também são consideradas? E os professores,
existiria uma “escuta” voltada a eles, às suas subjetividades?
São questões que,
certamente, não serão respondidas aqui neste artigo. Mas serão consideradas
como propulsoras para nossas reflexões que subsidiam a proposta de vivências
musicoterapêuticas para docentes da rede regular de ensino.
Em 2008 e 2009, no
Festival Internacional de Inverno de Brasília/DF- FIB[3],
efetivou-se um estudo-piloto (como ação integrante da pesquisa de doutoramento
intitulada A
‘escuta diferenciada’ das dificuldades de aprendizagem mediada pela música: o
musicodiagnóstico e a intervenção musicoterápica (NASCIMENTO, 2006), com o
objetivo de estruturar, testar e replicar algumas técnicas musicoterápicas,
tendo como suporte a Educação de Laboratório (ARGIRYS apud MOSCOVICI, 1985), a
concepção de Musicoterapia na área das práticas ecológicas (BRUSCIA, 2000) e
teorias da Educação sobre a formação continuada (SACRISTÁN, 1995). Foram
trabalhados, por meio de vivências musicoterápicas, grupos de professores que
atuam no ensino público.
Existe, segundo seus
relatos, um sentimento de despreparo quando se trata de Educação Inclusiva.
Esta pesquisa parte de alguns pressupostos: a música como terapia pode auxiliar
no processo de valorização do “sentir”, num mundo marcado por uma cultura de
dessensibilização; enquanto fenômeno que “toca” a essência do ser humano, a
música pode intermediar processos de transformação intra e interpessoais nos
contextos educacionais, minimizando os efeitos das dificuldades inerentes à
prática docente inclusiva.
Percebeu-se,
num primeiro momento, que as expectativas dos professores giravam em torno de
uma busca por técnicas para aplicar e/ou replicar no contexto da escola - “aprender algo para fazer na escola”. Uma
questão, sempre presente, ecoa na maioria dos cursos de formação e foi ouvida
também neste: “Como eu levaria isso para
a minha escola ?”
Diversas atividades
vivenciais, dentro da abordagem musicoterápica, foram proporcionadas durante os
mini cursos. Como fundamentação teórica para essas propostas, utilizamos a “Educação de Laboratório de Argirys
(ARGIRYS apud MOSCOVICI, 1985). Esta técnica visa, através de trabalhos e
tarefas, a serem desenvolvidas individualmente e/ou em grupo, trabalhar com
situações bem próximas à realidade profissional, objetivando um maior
equilíbrio emocional a partir da vivência de situações que podem vir a ocorrer
no mercado de trabalho ao qual será integrado (MARCHETI et. al., 2001).
Na
musicoterapia, consideramos esta proposta de trabalho inserida na área das
práticas ecológicas, como classificada por Bruscia (2000). Segundo o autor, a
área ecológica inclui todas as aplicações da música e da musicoterapia em que o
foco primário é a promoção da saúde, entre e no interior, dos vários estratos
sócio-culturais da comunidade e seu ambiente físico.
As
atividades foram estruturadas seguindo as seguintes etapas: 1º momento:
vivência musicoterápica; 2º momento: processamento/ feedback; 3º momento:
teorização e reflexão conjunta.
O
1º momento, VIVENCIAL, caracterizou-se por algumas
experiências musicais musicoterápicas e teve como objetivo possibilitar aos
participantes sentirem o que a música e seus diversos elementos constitutivos
lhes proporcionavam. Percepções, projeções e expressões criativas foram
vivenciadas pelos professores através de formas de comunicação não verbal:
corporal, sonora, musical e visual.
O
2º momento, do PROCESSAMENTO / FEEDBACK, teve por objetivo acolher os depoimentos dos
professores sobre o vivenciado, através das representações que os mesmos
elaboraram. Alguns depoimentos evidenciaram o potencial que a música, numa
proposta musicoterápica, pode favorecer, visando processos de mudança, tanto
nas representações mentais quanto nos comportamentos e/ou nas atitudes.
Apresentamos, aqui,
alguns depoimentos após as vivências musicoterápicas grupais:
-“encontro,
re-encontro, conhecer sobre o outro”;
-“Viajei
na minha própria viagem ao passado e viajei na viagem ao passado dos demais.
Vivenciei histórias que não vivi, mas senti como se tivesse vivido. E me
encontrei com a minha vida através das vidas contadas”;
-“Esse
momento foi um festival de emoções: me senti feliz por poder falar da minha
vida e ser ouvida com atenção (voz e vez); me senti triste ao lembrar da
adolescência sofrida que tive senti muita saudade da infância; amei ouvir as
histórias dos colegas”.
Com base na expressão
verbal, ou seja, nos depoimentos dos professores integrantes do grupo, também
foi possível observar o que as vivências musicoterápicas possibilitaram aos
participantes: quebra de algumas barreiras; busca por parcerias; aceitação das
diferenças; senso dos limites próprios e respeito aos limites do outro; entrega
a novas experiências; emergência do acolhimento ao outro; a valorização da
força de um grupo, do trabalho em equipe, ressaltando a importância da
cooperação mútua, dentre outras.
3º
momento, de TEORIZAÇÃO/ REFLEXÃO CONJUNTA: momento que
objetiva abordar temas que ampliem a percepção e as reflexões dos docentes,
contribuindo para a construção de novos conceitos. Se nos propomos a realizar
transformações em nós mesmos e no ambiente em que atuamos, faz-se necessário
mudar nossas concepções, acolhendo novos sentimentos e idéias, ou seja,
reconhecendo que existem não somente uma realidade instituída, mas sim várias
realidades, as quais, dependem, principalmente, de nossa maneira de perceber,
sentir e representar mentalmente o que estamos experienciando. Portanto, alguns
conceitos são trazidos e socializados com o grupo, no sentido de ampliar a
maneira de pensar e agir no cotidiano, dentre eles, temáticas que envolviam a
competição X cooperação (MATURANA E VARELA, 1997); dar e receber feedbacks (MOSCOVICI, F. 1985) , escuta
sensível e percepção do outro (BARBIER, 1997).
Ao final de cada
encontro, foi solicitado aos participantes para fazerem uma síntese individual
contendo suas impressões do dia. Foi-nos possível, por meio dessas sínteses,
‘escutá-los’ e ter uma visão de como todo o conteúdo trabalhado estava sendo
assimilado por eles:
- motivação para continuar o exercício de
educar usando a música como parceira na busca constante do conhecimento mútuo;
-
momento de descobertas sobre si e o outro;
-
despertar para também conhecer o nosso aluno;
-
tempo de enriquecimento e embasamento para trabalharmos melhor;
-
comecei a entender que muitos dos problemas em sala de aula são problemas de
relacionamento. Esses problemas podem ser solucionados através da Musicoterapia;
-
é necessário refletir mais sobre a prática pedagógica, se auto- avaliar.
Na avaliação final do
curso, foram entregues quatro questões a serem respondidas pelos professores
participantes:
Questão
1) Quais as possíveis contribuições que as vivências musicoterápicas
desenvolvidas durante o mini curso trouxeram para você enquanto pessoa?
-
Me ajudou a refletir mais sobre as minhas atitudes em sala de aula, a tentar
conhecer melhor o meu aluno e “eu” também;
-Me
estimulou a interagir em grupo explorando a criatividade coletiva;
-
Possibilitou o envolvimento de pessoas com posturas distintas a “desabafar” e
refletir sobre os mesmos necessidades e angústias do fazer pedagógico;
-Foi
muito bom refletir sobre a minha vida e a música que marcou cada período. Isso
me faz compreender o porque que faço música e o porque das minhas escolhas
musicais hoje;
-Diversas,
uma delas é pensar na minha própria atuação como profissional da educação,
permitindo-me um fazer que favoreça a mim e ao outro desenvolvimento e aprendizado.
- Observar
mais o “eu interior” e como a nossa história foi formada, dando um significado
para nós mesmos.
Questão
2) A partir do que experienciou nesses
dias de mini curso, o que você levaria para a sua prática pedagógica?
-Procurar
“questionar” ou “me perguntar” mais quando tiver algum problema com o aluno
para descobrir onde está o problema: em mim ou no meu aluno;
-Reflexão,
percepção das dificuldades de cada indivíduo;
-Vou
levar muito das vivências que tivemos aqui;
-Levo
novas perspectivas e conhecimentos que serão acomodados aos meus conhecimentos
e à minha prática pedagógica;
-Tudo,
dentro do possível: integração, ouvir mais, reflexão, experiências, mais
musicalidade de diferentes tipos;
-fazer da música um instrumento de mudança de comportamento
no meio escolar e em mim.
Questão
3) Quais as contribuições, no seu ponto de vista, da Musicoterapia na
Educação?
-
promover o auto conhecimento;
-
descobrir mais sobre a vida do aluno, sua história sócio-cultural;
-
rever conceitos e pré-conceitos, formados a partir de atitudes minhas e do
aluno;
-
levar em consideração a bagagem cultural e emocional do aluno;
-
a Musicoterapia na Educação é muito preciosa para se trabalhar em classes
regulares, inclusão, ensino especial e para os próprios professores;
-
auto-conhecimento e melhoria nas relações interpessoais;
-
bem importante! É mais um elemento integrador de mudanças, novas formas de
perceber o invisível que existe e precisa ser descoberto;
-
propiciou-me uma visão melhor do ato de educar.
Questão
4):Sugestões de novos temas e/ou experiências:
-
entrar em contato com a profesora da UnB para proporcionar o curso de
musicoterapia no Fórum Permanente de Professores/ UnB para profissionais da
Educação;
-
curso de continuidade no âmbito escolar, com enfoque na depressão;
-
promover novos encontros a partir desse tema e com o grupo, chegar a novos
temas e experiências (interesses comuns);
-
novos encontros para melhorar principalmente a nossa motivação;
-
Musicoterapia nas coordenações;
-
fazer uma prática continuada desses trabalhos para que possa aprofundar
mais os conteúdos, refletir as dificuldades e encontrar novas soluções
abordagen;
-
todos os temas seriam bem-vindos, pois estamos carentes de informações, de como
melhorar a nossa prática.
Ao
final do mini curso, foi possível escutar dos professores o seguinte discurso
(apelo ou tomada de consciência?): “precisamos multiplicar....a necessidade e
importância do professor oportunizar, a si mesmo, essa capacitação”.
Ao
encerrarmos um de nossos encontros musicoterápicos, por ocasião do FIB – 2008,
os educadores, através dos discursos de seus corpos, unidos como se fossem um
só instrumento melódico (xilofone), traduzem suas impressões após o mini curso. Utilizam de forma
lúdica e sensível, seus corpos para re-criar uma canção, que diz: “Sonho
que se sonha só, é só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é
realidade”. Em seguida, ocorre outra
grande transformação: o xilofone, ora representado pelos corpos dos integrantes
do grupo, transforma-se em um grande tambor, considerado um importante objeto
integrador na Musicoterapia (BENENZON, 1985). E eles se unem num só
ritmo, numa só voz...
REFERÊNCIAS:
BARBIER, René.- Escuta sensível
na formação de profissionais de Saúde. Conferência na Escola Superior de
Ciências da Saúde – FEPECS – SES-GDF - http://www.saude.df.gov.br Brasilia,
2002.
BENENZON, Rolando O. Manual de Musicoterapia (trad.
Clementina Nastari), Rio de Janeiro: Enelivros, 1985.
BRUSCIA, Kenneth E. Definindo
Musicoterapia (trad. Mariza Velloso Fernandez Conde), 2ª ed., Rio de
Janeiro: Enelivros, 2000.
MATURANA
ROMESÍN, H. & VARELA GARCIA, F. De
Máquinas e Seres Vivos: Autopoiese: a Organização do Vivo. 3a ed. Porto
Alegre; Artes Médicas,1997.
MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento Interpessoal, 3ª ed.
rev. e ampl., Rio de Janeiro: LTC, 1985.
MARCHETI, Ana P.C, FERRONI, Márcia S.N., OLIVEIRA, Nelma S. S., Educação de laboratório - uma estratégia de ensino e aprendizagem
alternativa para o desenvolvimento técnico e interpessoal, s/local, 2001.
SACRISTÁN, J. Gimeno.- Consciência e ação sobre a prática como
libertação profissional dos professores. In: NÓVOA, António (org.). Profissão Professor. Porto: Porto
Editora, 1995.
[1] Musicoterapeuta,
Coordenadora e Supervisora-clínica de estágio do Curso de Musicoterapia da
Escola de Música e Artes Cênicas/UFG. Doutoranda em Educação pelo Programa de
Pós-Graduaçao em Educação/ FE/UFG srochakanda@hotmail.com
[2]
Doutora em Comunicação e Semiótica/PUC-SP; Professora-pesquisadora vinculada ao
Programa de Pós-Graduação em Música; Conselheira no Conselho Estadual de
Educação do Estado de Goiás; Musicoterapeuta Clínica. E-mail: leomara.craveiro@gmail.com
[3] No Festival
Internacional de Inverno de Brasília, FIB/2008, organizado pela Universidade de
Brasília / UnB, sob a coordenação geral da Prof. Ms Beatriz Salles, foram
oferecidos dois mini cursos de Musicoterapia aplicada à área da Educação: Re-significando o Ato Pedagógico e Violência no Espaço Escolar: construindo
alianças, tendo como público alvo professores da Secretaria de Educação do
Governo do Distrito Federal–GDF. Os mini-cursos, realizados durante o mês de
Agosto/2008, foram estruturados e desenvolvidos pelas autoras, musicoterapeutas
Profª Drª Leomara Craveiro de Sá e Profª Ms Sandra Rocha do Nascimento
(doutoranda-FE/UFG), ambas, professoras vinculadas à Escola de Música e Artes
Cênicas da UFG, contando com a participação das musicoterapeutas colaboradores:
Fernanda Valentin (mestranda – EMAC/UFG) e Andressa Toledo (musicoterapeuta do
Hospital Psiquiátrico Eurípedes Barsanulfo – Goiânia/GO).
_______________________________________________________________________________
O ESTADO DA ARTE SOBRE MUSICOTERAPIA NA EDUCAÇÃO:
LIMITES E POSSIBILIDADES NA PESQUISA, NA TEORIA E NA
PRÁTICA MUSICOTERÁPICA.
Drª Maria Hermínia M.S. Domingues[1]
Dtda. Sandra
Rocha do Nascimento[2]
RESUMO:
Este
trabalho apresenta uma primeira análise do levantamento denominado Estado da
Arte sobre a temática Musicoterapia na Educação, verticalizando na
aplicabilidade com crianças normativas, sem deficiências, dentro do espaço
escolar e/ou educacional. Os dados expostos evidenciam sobre a importância na realização
desse tipo de estudo, possibilitando denunciar falhas na exposição das
informações dos trabalhos publicados, bem como mostrar algumas lacunas nas
investigações científicas da área, propondo sugestões de novos temas a serem
pesquisados e sistematizados, tanto na prática clínica quanto na formação
profissional.
Palavras-Chave:
Musicoterapia na Educação; Estado da Arte; Pesquisa Musicoterápica.
ARTIGO:
Poucos estudos são
encontrados investigando sobre a aplicabilidade da Musicoterapia na educação,
em específico dentro do contexto escolar junto a crianças normativas, isto é,
sem deficiências físicas, sensoriais e/ou mentais ou com transtornos psíquicos.
A escassez de literatura sobre o tema é uma realidade, onde a maioria das
pesquisas musicoterápicas, ligadas à educação, referem-se aos casos que
apresentam deficiências, efetivadas dentro de instituições especializadas, como
nos centros de atendimentos e/ou escolas especiais ou em contexto clínico.
Justifica-se essa
afirmativa ao se evidenciar, no momento da construção da pesquisa de
doutoramento em Educação (Programa de Pós-Graduação em Educação/ Faculdade de Educação/
Universidade Federal de Goiás), intitulada A ‘escuta diferenciada’ das dificuldades de aprendizagem mediada pela
música: o musicodiagnóstico e a
intervenção musicoterápica (de autoria da Dta.Sandra
Rocha do Nascimento, sob orientação da Profª Drª Maria
Hermínia M. S. Domingues), uma lacuna nas linhas de investigação da área da
Musicoterapia, proporcionando uma dificuldade no acesso ou conhecimento sobre
estudos ligados à temática.
Mediante a essa
problemática, propôs-se, entre as diversas ações da pesquisa-ação integral
citada, a realização do Estado da Arte sobre a aplicabilidade da Musicoterapia
na Educação[3],
em específico dentro do contexto escolar , tendo como foco os casos de
dificuldades de aprendizagem.
Segundo Alves-Mazzotti
e Gewandsznajder (1998, p.181), o Estado da Arte “serve fundamentalmente para
situar o pesquisador, dando-lhe um panorama geral da área e lhe permitindo
identificar aquelas pesquisas que parecem mais relevantes para seu tema”. Para Ferreira (2002), essas pesquisas são
definidas como de “caráter bibliográfico”, onde o desafio é “mapear e discutir
uma certa produção acadêmica em diferentes campos do conhecimento” (p.257),
buscando responder as temáticas e dimensões que estão sendo priorizadas em
diferentes épocas e lugares, bem como evidenciar as condições das produções
científicas. Soares (1989) afirma que o objetivo da pesquisa do tipo estado da
arte é “inventariar e sistematizar a produção em determinada área do
conhecimento”(p.3), realizando um levantamento e avaliação da temática em
estudo. Continua afirmando que esse tipo de pesquisa pode “conduzir à plena
compreensão do estado atingido pelo conhecimento a respeito de determinado
tema, em determinado momento, na sua amplitude, tendências teóricas e vertentes
metodológicas; permite a indicação das
possibilidades de integração de diferentes perspectivas, aparentemente
autônomas; podem identificar duplicidades ou contradições; podem determinar lacunas
ou vieses” (SOARES, 1989, p.3).
O Estado da Arte é um
tipo de “processo de garimpagem” (ALVES-MAZZOTTI E GEWANDSZNAJDER, 1998),
composto de diversas ações e etapas, tendo como objeto de estudo deversas fontes
de pesquisa: católogos, resumos, bancos de dados, anais de eventos científicos,
entre outras fontes. Variadas são as opções metodológicas e os critérios de
avaliação das fontes e dos dados, “dependendo das características do objeto de
estudo e dos objetivos que, a partir delas, a pesquisa se propõe atingir” (SOARES,
1989, p.3).
Inicialmente buscou-se
estudos que abordassem sobre a aplicação da Musicoterapia na Educação junto a
alunos normativos e/ou com dificuldades de aprendizagem sem deficiências associadas.
Verificou-se que esse recorte possui muitas dificuldades a serem superadas,
dentre eles, como primeiro aspecto a ser pensado, é a escassa divulgação de
trabalhos ligados ao tema. É um desafio conhecer o material já construído
(embora muitas práticas, com certeza, ainda não foram publicadas, prejudicando
o levantamento), para depois evidenciar o que ainda não foi feito. Enfatizamos
a importância de todos nós, profissionais da área da Musicoterapia, divulgarmos
nossos trabalhos e práticas, oportunizando que levantamentos como o Estado da
Arte que propomos sejam realizados com maior fidedignidade.
Outra problemática refere-se
à apresentação de títulos que não explanam, com clareza, o tema e/ou objeto de
estudo investigado. Ou seja, muitos títulos não identificam, nem mesmo nos
sub-títulos, a clientela e o foco da pesquisa ou estudo. Quando possuem os
resumos, compostos de todos os aspectos necessários à identficação do estudo, é
possível verificar se o trabalho contempla ou não o tema eleito. Porém, muitos
resumos ainda carecem de uma melhor estruturação, deixando vago a clientela
atendida, o foco e os resultados alcançados.
As produções científicas
eleitas para a pesquisa em questão estão sendo escolhidas, a priori, nos títulos dos estudos
ou trabalhos construídos dentro dos cursos (de graduação e pós-graduação) e
eventos científicos da área de musicoterapia, em nível nacional, em primeira
instância, e posteriormente nos diversos eventos científicos realizados, em
outras instâncias e/ou áreas, através de listas de trabalhos e/ou banco de
dados, visto que muitos não possuem os resumos divulgados. Buscamos realizar um
levantamento de fontes que, também, evidenciem os movimentos de relação
diálogica interdisciplinar entre o profissional musicoterapeuta-pesquisador e
as demais áreas do conhecimento, ou seja, a presença de trabalhos em eventos
científicos de outras áreas do conhecimento, tais como educação, arte, ensino
musical.
Dentre as fontes
buscadas, inicialmente, citamos: a lista
do site da UBAM (União Brasileira das Associações de Musicoterapia),
período até 2009; a lista das
monografias realizadas através da EMAC/UFG, período de 1995 a 2009(graduação e
especialização); os Anais do SEMPEM( Seminário Nacional de Pesquisa em Música/
EMAC/UFG), período 2007 até 2009; os Anais do VIII Encontro Nacional de
Pesquisa em Musicoterapia do Estado do Rio de Janeiro, ano 2008; os Anais do XII Congresso Mundial de
Musicoterapia, ano 2008; os Anais do SIMCAM (Simpósio Internacional de Cognição
e Artes Musicais), anos 2005, 2007, 2008 e 2009; os Anais do COMPEX (Congresso
de Pesquisa , Ensino e Extensão/UFG), ano 2008; os Anais do ABEM (Associação
Brasileira de Educação Musical), até o período de 2008. Diversas outras fontes
se fazem necessárias à consulta, ficando, aqui, um apelo aos colegas
musicoterapeutas à disponibilização de dados acerca da temática estudada.
Como categorias para
análise das fontes levantamos a
presença, nos títulos, das palavras: musicoterapia e educação. Como resultados
iniciais evidenciamos uma grande dificuldade em definir os estudos a serem
analisados, visto que muitos títulos não abordavam os termos eleitos. Percebemos
que seria necessário realizar outra definição ao levantamento dos títulos, ampliando
o foco temático para os termos: musicoterapia, educação, educação especial,
denominação de alguma deficiência, cognição ou desenvolvimento cognitivo,
aprendizagem, dificuldades de aprendizagem, estudantes, contexto escolar.
Observamos que a grande
incidência dos títulos ligados à educação (regular e/ou inclusiva) se refere
aos estudos realizados com indivíduos com psicopatologias (deficiências
sensoriais, mental e/ou física, autismo, déficit de atenção), ficando muito
reduzido os trabalhos com clientelas normativas (em sua maioria nos casos de estresse
adulto) e raros trabalhos dentro do contexto escolar. Faz-se necessário obter
informações de outras listagens e/ou banco de dados para ampliar os dados desta
etapa. Para a próxima etapa, propomos solicitar os resumos e/ou cópias digitais
aos autores das obras elencadas, para leitura, análise e categorização através
de fichas de leitura.
Englobando duas áreas
do conhecimento –educação e arte-, numa abordagem interdisciplinar,
verticalizando os estudos para a música e, especificamente, para a musicoterapia,
percebe-se que o Estado da Arte sobre a temática Musicoterapia na Educação
evidencia uma área de prática clínica ainda pouco vislumbrada, tanto pelos
profissionais da própria área quanto os integrantes da equipe pedagógica das
escolas.
Atentamo-nos para o
fato de que a excessiva verticalização das investigações em Musicoterapia
encontram-se nos ‘aspectos doentios’ do ser humano, centrando as práticas
clínicas em processos de reabilitação, readptação, reajustamento, entre outras
propostas. Questionamos se essa “priorização” - temática ligada aos quadros
psicopatolóicos - não seria ecorrente da
própria origem da área, visto que a musicoterapia constituiu-se, enquanto área
de conhecimento, a partir das aplicabilidades junto aos indivíduos acometidos na
da Segunda Guerra Mundial.
Propomos um ‘novo
olhar’ para nossa atuação clínica: uma perspectiva de prevenção, de manter o
‘lado saudável’ dos indivíduos para que não adoeçam, propondo uma perspectiva de atuação
psico-profilática nessa clientela e aos demais atores da comunidade escolar:
professores, gestores, pais e demais funcionários.
Logo, a Musicoterapia
no contexto escolar e/ou na educação com indivíduos normativos é um campo a ser
explorado, desbravado, suscitando novas investigações na área... abrindo novos
campos de trabalho...um novo paradigma.
REFERÊNCIAS:
ALVES-MAZZOTTI,
Alda Judith e GEWANDSZNAJDER, Fernando. O
método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa.
2ª ed. São Paulo: Pioneira, 1998.
FERREIRA,
Norma Sandra de Ameida. As pesquisas denominadas Estado da Arte. In: Educação & Sociedade, Campinas/ São
Paulo, ano XXIII, nº 79, Agosto/2002.
SOARES, Magda
Becker. Alfabetização no Brasil: o
estado do conhecimento. Brasília: INEP/ REDUC/ UFMG, 1989.
[1] Doutora em Psicologia
da Educação. Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação, da Faculdade
de Educação/UFG. (domjlh@terra.com.br )
[2]
Musicoterapeuta, Coordenadora e Supervisora-clínica de estágio do Curso de
Musicoterapia da Escola de Música e Artes Cênicas/UFG. Doutoranda em Educação
pelo Programa de Pós-Graduaçao em Educação/ FE/UFG (srochakanda@hotmail.com;
celular: 62- 9603 2774)
[3] O levantamento do Estado da Arte
sobre a Musicoterapia na Educação faz parte das ações efetivadas pelo Grupo de
Estudo em Musicoterapia na Educação (NEPAM/EMAC/UFG), coordenado pela
pesquisadora, contando com a participação de acadêmicos do curso de graduação
em musicoterapia e de pós-graduação em música.
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